segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

 
 
Mi memoria es maldita y amarilla como un río sumido desde hace muchos años.
 
Mi memoria es maldita. Más allá, antes de la memoria, un país sin retorno, acaso sin existencia:
 
hierba muy alta y dulce, siesta en la densidad: aquella miel sobre los párpados.
 
Era la exudación y penetraba el tiempo. Los insectos se fecundaban sin cesar y la serenidad nos poseía. Pero aquel tiempo no existió: sucedió en la inmovilidad como la música antes de su división.
 
Mi memoria es maldita y amarilla como el residuo indestructible de la hiel.
 
Yo extendía membranas sobre los gritos de la inutilidad. Ésta fue mi justicia, pero qué ha quedado de mi alma?
 
No me busques en la justicia. No encontrarás mi cuerpo en iglesias ni en profecías insufribles como los tábanos en la lengua de los animales muy enfermos.
 
Mi amistad está sobre ti y tú no estás debajo de mi amistad. No soy yo el despojado: tu hermosura es tenaz pero mi cansancio es más profundo que tu hermosura.
 
 
  Gamoneda, Antonio. Esta Luz, Poesía Reunida ( 1947 - 2004 ). Barcelona: Círculo de Lectores/ Galaxia Gutemberg, 2004, pp 182 - 183.

domingo, 23 de fevereiro de 2014



Recuerdo que la tierra quiebra dura
y se levanta azul hacia la nieve.
Recuerdo que los ríos descendían
cual frescos gavilanes y recuerdo
las tierras rojas sobre lomas. Vi
ásperos pueblos, huertos silenciosos.

Miré también al corazón humano
y vi la misma lentitud, la misma
roja aspereza y silencioso frío.

Pero, más tarde, sorprendí las aguas
enloquecidas por la luz, los lírios
ante el abismo, en la serenidad,
el ruiseñor, de noche, entre los álamos,
y los veloces pájaros del día.


  Gamoneda, Antonio. Esta Luz, Poesía Reunida ( 1947 - 2004 ). Barcelona: Círculo de Lectores/ Galaxia Gutenberg, 2004, p 154.
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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014



    " A fuligem do mundo "


Perdido entre achados e perdidos,
finco minhas gloríolas nesta merda
de mundo:
serei poeta, quem
há de dizer que não?
Serei poeta como quem sobe
as montanhas mais íngremes ao luar.
E se isso não lhe significar
porra nenhuma,
é porque sou mesmo poeta.

 Brasileiro, Antonio. Poemas Reunidos. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, 2005, p 85.
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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014



  " A rosa de Hiroshima "


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa sem cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.


   Moraes, Vinicius de. Antologia Poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, p 299.
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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014


     "  Soneto de separação  "


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


   Moraes, Vinicus de. Antologia Poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, pp 208 - 209.
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       " Soneto de fidelidade "


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
O seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


  Moraes, Vinicius de. Antologia Poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, pp 136 - 137.
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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


                                  "  O poeta "


Quantos somos, não sei... Somos um, talvez dois; três, talvez quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil cujos restos encheriam doze Terras
Quantos, não sei... Só sei que somos muitos - o desespero da dízima infinita
E que somos belos como deus mas somos trágicos.
Viemos de longe... Quem sabe no sono de Deus tenhamos aparecido como espectros
Da boca ardente dos vulcões ou da órbita cega dos lagos desaparecidos
Quem sabe tenhamos germinado misteriosamente do solo cauterizado das batalhas
Ou do ventre das baleias quem sabe tenhamos surgido?

Viemos de longe - trazemos em nós o orgulho do anjo rebelado
Do que criou e fez nascer o fogo da ilimitada e altíssima misericórdia
Trazemos em nós o orgulho de sermos úlceras no eterno corpo de Jó
E não púrpura e ouro no corpo efêmero de Faraó.

Nascemos da fonte e viemos puros porque herdeiros do sangue
E também disformes porque - ai dos escravos! não há beleza nas origens
Voávamos - Deus dera a asa do bem e a asa do mal às nossas formas impalpáveis
Recolhendo a alma das coisas para o castigo e para a perfeição na vida eterna.

Nascemos da fonte e dentro das eras vagamos como sementes invisíveis o coração dos mundos e dos homens
Deixando atrás de nós o espaço como a memória latente da nossa vida anterior
Porque o espaço é o tempo morto - e o espaço é a memória do poeta
Como o tempo vivo é a memória do homem sobre a Terra.

Foi muito antes dos pássaros - apenas rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar como um farol alucinado...
Existíamos já... No caos de Deus girávamos como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que privilégio recebido?

E enquanto o eterno tirava da música vazia a harmonia criadora
E de harmonia criadora a ordem dos seres e da ordem dos seres o amor
E do amor a morte e da morte o tempo e do tempo o sofrimento
E do sofrimento a contemplação e da contemplação a serenidade imperecível.

Nós percorríamos como estranhas larvas a forma patética dos astros
A tudo assistindo e tudo ouvindo e tudo guardando eternamente
Como, não sei... Éramos a primeira manifestação da divindade
Éramos o primeiro ovo se fecudando à cálida centelha.

Vivemos o inconsciente das idades nos braços palpitantes dos ciclones
E as germinações da carne no dorso descarnado nos luares
Assistimos ao mistério da revelação dos Trópicos e dos Signos
E à espantosa encantação dos eclipses e das esfinges.

Descemos longamente o espelho contemplativo das águas dos rios do Éden
E vimos, entre os animais, o homem possuir doidamente a fêmea sobre a relva
Seguimos... E quando o decurião feriu o peito de Deus crucificado
Como borboletas de sangue brotamos da carne aberta e para o amor celestial voamos.

Quanto somos, não sei... Somos um, talvez dois; três, talvez quatro; cinco, talvez nada
Talvez a multiplicação de cinco em cinco mil e cujos restos encheriam doze Terras
Quantos, não sei... Somos a constelação perdida que caminha largando estrelas
Somos a estrela perdida que caminha desfeita em luz.


    Moraes, Vinicius de. Antologia Poética. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2001, pp 45 - 48.
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sábado, 15 de fevereiro de 2014



         "  Diferido  "


Na tarde em que te contei
que o meu poema não
tinha entrado na antologia
acabámos por ir comer
sável a um desses restaurantes
onde os homens se amontoam
ao balcão, de olhos humedecidos pela
corrida de touros que dá em diferido,
e pedem mais garrafas de cerveja
porque chove sempre ao domingo.

Deixei-me dormente a olhar para a tua nuca
à hora em que fazias a sesta ( acho que já te
disse que não lido bem com tanto abandono).
Com a mão livre que tinha escrevi
no recibo amarrotado "príncipe tolhido
em alta noite num canto de prata"
na esperança (falível, eu sei)
de que me fosses entender.

Esguios entre a frequência da chuva.
o dono do restaurante e um empregado sisudo
arrastaram as velhas grades, os caixotes do lixo,
ruído suficiente para estremeceres,
para desconfiares dos meus gestos.
Tenho também a certeza de que adormeci
um pouco antes de acordares.


   Pedreira, Frederico. Doze Passos Atrás. Lisboa: Artefacto, 2013, p 62.
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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014



Sento-me paro e aqui volto
depois de ter ficado mais um pouco
retomo o fio prateado o jogo de contas
sábia carícia entre mãos
ao balcão com a cerveja a gordura de todos
e o outro mostra as palavras que tem e não tem
e trago-te o mesmo repouso no escuro
a silhueta enfurecida
tombando ainda mais um bocado
não tarda pelas ruas o ruir dos passos
empurrado pelo jugo doméstico
que vem da hora tardia
que ainda assim não vale nada
e os ouvidos tapam-se com
os sorrisos das mulheres frágeis
apertam os ossos mínimos
perguntam o que é que nos podes mostrar
que transgressões sumptuosas
que humidades que jogo de dedos
e eu só me vou lembrando
de um pátio com um limoeiro aceso
enquanto rodo uma feira de fantasmas
na palma da mão dorida.


  Pedreira, Frederico. Doze Passos Atrás. Lisboa: Artefacto, 2013, p 26.
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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014



  " Soneto de desafio ao mito do Eterno Retorno "



Inquieta-me pensar que no passado
há o futuro e neste há o tempo ido.
O que vivenciei com um amor morto
em outra tez viverei com um amor vivo?
Esse mito do Eterno Retorno arfa
quando anseio nutrir novo destino.
Eu quero dados virgens na água,
vê-los modificar curso de rio.
Cala-te, Zaratustra, quero crer
que cada amar é outro criar de ritos,
que cada homem tem em seu buquê
uma desconhecida flor em cio!
       Também desejo ser criação inédita,
        não ter nenhuma pétala como réplica.



  Moutinho, Rita. Sonetos dos Amores Mortos. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2006, p 133.
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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014


   " Soneto do grilhão, elo invisível que aprisiona "


Ainda penso em ti com minhas asas
impondo um sobrevôo em tempos idos,
olhando distanciada o suor das brasas
e férreos liames frouxos e corroídos.

Não sei se voltarás, és tão medroso,
tão escravo é teu pé de pega tensa,
que enublaste os anseios da alma e, oleoso,
escoaste em poço seiva ainda intensa.

Transito entre esperança e conformismo,
com tua imagem de presa borboleta,
levando-me ao beiral do fatalismo.

Estão entre aspas todas as certezas,
enquanto o tempo escorre na ampulheta,
somando, aos grãos, a água das tristezas.


 Moutinho, Rita. Sonetos dos Amores Mortos. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2006, p 30.
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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014



     " Soneto do falo falho ou do quixotesco "


Unir os pólos nus gerando um sol
áureo, senhor, fidalgo de um archote,
que tremeluz na alcova e no lençol,
não pude com meu casto D. Quixote.
Nosso gozo se dava nas idéias
que nos suavam das bocas ao luar,
com vários cantos, como epopéias
ingênuas, sem potência, sem raiar.
Bem quis percorrer léguas de epiderme,
tocar banjo nos fios das madeixas,
amarrá-lo a dosséis e, vendo-o inerme,
atacá-lo com o mel voraz das gueixas.
       Mas o amor pleno pus no desalento
       e meu cio em moinhos só de vento.


    Moutinho, Rita. Sonetos dos Amores Mortos. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2006, p 27.
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014




                 "  Fala de Adriano para Yourcenar  "

 

Somos as viagens que fizemos, a ânsia de encontrar
no turbilhão dos homens todas as cidades que havíamos
de construir. Somos esta imortalidade a que os deuses
nos condenaram e que agora fruímos com a desabusada
naturalidade que alguns entendem por afectação
de gelo ou por um aristocratismo que em verdade
nunca sentimos. Somos o azul inconfundível do Egeu
com suas ilhas e templos, com suas ruinas e colinas
onde as mais antigas vozes ainda se levantam,
para logo se emaranharem na agitada distracção
dos homens. Somos este vazio que ficou, esta memória
a que nenhum de nós consegue fugir: tu a vigiar
um cancro impiedoso, eu com um afogado nos braços.
Ambos derrotados antes de tempo! Ambos com toda
a glória que nos insistiam, apesar do nosso cansaço,
do nosso isolamento, da nossa fome de silêncio.
Somos esta culpa por não termos entendido,
por não termos sabido ler ternura e merecimento,
por termos deixado escapar o que afinal era
bem nosso por direito e coração. Somos este fogo
que não tem nome. Este monstro que nos devora
e envenena ainda as manhãs, quando, insones,
tacteamos a penumbra e não encontramos
os seus rostos, os seus corpos tão prolongamento
dos nossos, o seu respirar que nos enchia a vida
e cuja ausência nos desenha hoje essa morte
que se avizinha. Somos este aziago anoitecer,
este trémulo deambular, que, no sopro ordenador
do mundo, espera a barca que nos devolverá
tudo aquilo de que não cuidámos como devíamos.
 
 
          Mateus, Victor Oliveira. Clepsydra, Antologia Poética. Lisboa: Coisas de Ler, 2014, p 182.
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domingo, 9 de fevereiro de 2014

 
 
   A autocastração era uma via de sentido único para a personificação ritual. Nos mistérios pagãos, que influenciaram o Cristianismo, o devoto imitava e procurava a união com o seu deus. O sacerdote da Grande Mãe mudava de sexo para se converter nela. O transexualismo era uma escolha árdua, o travestismo era-o menos. Nas cerimónias de Siracusa os homens eram iniciados envergando a túnica púrpura de Deméter. No México pré-colombiano, uma mulher representando a deusa era esfolada, após o que um sacerdote masculino se cobria com a sua pele. O sacerdote castrado do culto da Grande Mãe era referido como "ela". Daí que quando o Átis de Catulo se castra, o pronome que o designa seja alterado do masculino para o feminino. Hoje em dia, a etiqueta exige que nos refiramos a uma drag queen urbana utilizando "ela", mesmo quando envergue roupas masculinas.
   A iluminação de carácter espiritual produz a efeminização do homem. Mead observa que "a complexa estrutura biológica da mulher converteu-se num modelo para o artista, o místico e o santo." A intuição ou a percepção extra-sensorial são uma forma feminina de escutar a voz secreta das coisas e do que está para além das coisas. Farnell afirma que "muitos obervadores antigos repararam que as mulheres ( e os homens feminizados ) eram especialmente propensos a acessos de religiosidade orgiástica". A histeria significa loucura uterina ( do grego ustera, "útero"). As sibilas e os oráculos eram mulheres, mais propensas a visões proféticas. Heródoto fala dos Enares citas, profetas masculinos afectados por uma "doença feminina", provavelmente a impotência sexual. O fenómeno designado por xamanismo migrou para Norte, em direcção à Ásia Central, e foi detectado nas duas Américas e na Polinésia. Frazer descreveu as etapas de transformação sexual dos xamãs que fazem lembrar as dos actuais candidatos a cirurgias de mudança de sexo (...). O xamã siberiano, que usa um cafetã de mulher onde são cosidos dois grandes discos imitando seios é, segundo Mircea Eliade, um exemplo de androginia ritual, simbolizando, a coincidentia oppositorum ou reconciliação dos opostos. (...)
   Tirésias, o xamã andrógino grego, é descrito como um velho com longas barbas e descaídos seios de mulher. (...) Eu adoptei o nome "Tirésias" para designar uma categoria de andrógino: a do homem que cuida dos filhos, a mãe masculina. É uma figura que podemos encontrar nas esculturas dos deuses fluviais clássicos, na poesia romântica ( Wordsworth e Keats ) e na cultura popular moderna ( apresentadores de talk-shows televisivos).
(...) O oráculo délfico é uma mulher invadida por um espírito masculino. Tal como os grandes dramaturgos e romancistas mudam mentalmente de sexo ao conceberem as suas personagens femininas, a Pítia sofre uma usurpação da sua identidade.
 
 
    Paglia, Camille. Personas Sexuais, Arte e Decadência de Nefertiti a Emily Dickinson. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2007, pp 57 - 59.
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sábado, 8 de fevereiro de 2014

 
 
   Por o amor romântico ser um tal "pico" de euforia, por ser uma paixão difícil de controlar, e porque provoca anseio, obsessão, compulsão, distorção da realidade, dependência emocional e física, alteração da personalidade e perda do autocontrolo, muitos psicólogos consideram-no uma dependência - uma dependência positiva quando o amor de uma pessoa é desprezado e ela não consegue libertar-se dele. A nossa experiência por TIRM com pessoas apaixonadas apoia esta asserção: o amor romântico é uma droga viciadora.
   Directa ou indirectamente, virtualmente todas as "drogas abusivas" afectam um único atalho no cérebro: o sistema de recompensas mesolímbico, activado pela dopamina. O amor romântico estimula partes do mesmo atalho com a mesma substância química. Com efeito, quando os neurologistas Andreas Bartels e Semor Zeki compararam as imagens dos cérebros dos sujeitos enamorados com as de homens e mulheres que se tinham injectado com cocaína ou opiáceos, constataram que muitas das mesmas regiões cerebrais se tinham activado, incluindo o córtex insulano, o córtex cingulado anterior, o núcleo caudado e o putamen.
   Além disso, o amante enfeitiçado apresenta os três sintomas clássicos da viciação: tolerância, ressaca e reincidência. A princípio o amante contenta-se em ver o amado uma vez por outra. Mas à medida que a dependência aumenta, precisam cada vez mais de sua "droga" (...).
   E se o amado termina a relação, o amante mostra todos os sinais comuns da ressaca de drogas, incluindo depressão, episódios de choro, ansiedade, insónia, perda de apetite (ou comer sem controlo), irritabilidade e solidão crónica. Como em todas as viciações, o amante então passa por situações extremas de falta de saúde, de humilhação, até de risco físico, para obter o seu narcótico.
   Os amantes também têm recaídas, como os viciados em drogas. Muito depois de a relação ter terminado, acontecimentos tão simples como ouvir uma determinada canção ou revisitar um velho local de encontro podem desencadear o anseio do amante...
 
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2008, pp 180 - 181.
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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


 
   Os nossos cérebros humanos também nos permitem sentir intensamente. Para falar com franqueza, há muito que penso que a natureza exagerou no que toca às emoções humanas. Nós "sentimos" demasiado. Agora sei porquê. A amígdala humana, uma região em forma de amêndoa na parte lateral da cabeça, por baixo do córtex, tem mais do dobro do tamanho da amígdala dos macacos. Esta região cerebral desempenha um papel essencial na produção do medo, ira, aversão e agressividade; algumas partes também produzem prazer. Com esta capacidade cerebral de gerar emoções fortes, por vezes violentas, nós, humanos, temos a capacidade de ligar o nosso impulso para amar a uma vasta colecção de sentimentos.
   Também somos dotados, com exclusividade, de meios para nos lembrarmos "dele" ou "dela". (...) Porém, para nos ajudar a recordar, a natureza cogitou fazer o nosso hipocampo, a região do cérebro que usamos para produzir e armazenar lembranças, quase com o dobro do tamanho do dos grandes macacos. Esta região do cérebro evoca também de modo admirável os sentimentos que acompanham as lembranças. Com esta excelente fábrica e caixa de armazenagem - o hipocampo - nós, humanos, somos capazes de evocar o mais minúsculo pormenor a respeito "dele" ou "dela".
   Mas de todas as partes do cérebro que evoluíram para tornar mais intensa a experiência do amor romântico, a mais importante é sem dúvida o núcleo caudado humano. Esta região cerebral está associada à atenção focalizada e à intensa motivação para ganhar recompensas.
(...) Um dia poderemos elevar-nos completamente da Terra e subir em direcção às estrelas. Estes viajantes levarão nas suas cabeças maquinaria mental requintada, nascida no capim da África antiga há mais de um milhão de anos. Entre esses talentos especiais estarão a nossa inteligência, a nossa aptidão para a poesia, as artes e o drama, um espírito benigno e muitas outras características do cortejamento, incluindo a espantosa capacidade humana de se apaixonar perdidamente.
(...) Como sabem, o amor romântico não anda necessariamente de mãos dadas com o anseio de nos ligarmos a um perceiro de acasalamento durante um período de tempo longo. Podemos apaixonar-nos por alguém com um modo de vida diferente, com quem nunca nos vamos querer casar. E podemos sentir paixão romântica por uma pessoa enquanto nos sentimos profundamente ligados a outra, normalmente um cônjuge. (...) Que loucura - estar social ou sexualmente ligado a uma pessoa e desvairadamente apaixonado por outra.
  Porque é que os circuitos cerebrais do amor romântico se desligaram dos sentimentos de luxúria e de ligação a longo prazo? (...) Isto é, os volúveis circuitos cerebrais para o amor romântico são caprichosos por desígnio da natureza.
(...) Os namoradeiros americanos até têm filhos com os seus parceiros clandestinos. Num programa de 1998 para detectar doenças genéticas, os cientistas ficaram espantados ao verificar que 10%  das crianças submetidas a testes não eram prole dos seus pais legais. (...)
   Nós fomos feitos para amar e voltar a amar.(...) Que confusão e que mágoa essa química pode provocar, quando estamos casados com alguém que admiramos e nos apaixonamos por outra pessoa. (...) Mas essa rede de circuitos cerebrais gerou uma tremenda desordem nos dias de hoje, contribuindo para os nossos padrões mundiais de adultério e divórcio...
 
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D'Água, 2008, pp 150 - 152.
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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

( Este artigo publicado, em 2011, na Revista Textualino andava perdido, daí nunca ter aparecido na Dispersa 1 , agradeço a quem teve a gentileza de mo reencaminhar para ser postado agora na Dispersa 2. Obrigado!)
     
 
      " Breves Notas Sobre o Livro Paredes Abertas ao Céu de Inez Andrade Paes "


Ao contrário de muita da poesia escrita nos últimos anos em Portugal continental, de raiz fundamentalmente urbana, com os seus ícones, as suas preocupações e, muitas vezes até, com o panegírico das suas vivências, a poesia feita por grande parte dos autores cuja nacionalidade e/ou origem é a África de língua oficial portuguesa apresenta-nos um paradigma bastante diferente. Se referi apenas o continente, é porque me parece que muita da poesia oriunda do Portugal insular não enforma desse alarde do citadino, embora nalguns casos sejamos tentados a cair na armadilha que alguns autores nos tentam apresentar, como é o caso do último livro de Álamo de Oliveira e de alguns poemas de Daniel Gonçalves. Mas em grande parte da poesia onde circula o áfrico sangue o discurso é distinto, discurso esse, que, ao contrário do português, assume os vários territórios ecológicos que em si se entranham dando azo a uma iniludível especificidade: “Chão inconquistado, chama-me teu que sobre minha fronte se/ esvai a lua esburacada na sanzala.”, diz-nos o serviçal de Conceição Lima (In “O útero da casa” p 35), “Eu terra eu árvore eu sinto/ todas as veias da terra/ em mim e/ o doce silêncio da noite” afirma-nos o Adorno de Paula Tavares (in “Como veias finas na terra” p 26) – esta recorrência do natural, do mundo do trabalho e da interioridade ante ambos difunde-se por tantos e tantos poetas deste universo, para além das já citadas, de Craveirinha a Mia Couto, de Manuela Margarido a Alda Espírito Santo, atente-se, por exemplo, ao principal título desta última: “É nosso o solo sagrado da terra”.

É neste conjunto de vozes que a escrita de Inez Andrade Paes assenta as suas coordenadas, pois apesar de, neste seu livro, estarmos frente a uma poesia centrada fortemente na memória e na solidão, a terra assume uma constância que trespassa a obra: “cá em baixo a chuva de sal deixará um rasto branco/ a decorar brilhante os corais ainda/ na Baía de Pemba “ (p 33); “ o vento disse/ enxugas-me as lágrimas de areia que trago de África” ( p 52); “ já ambas/ vestidas de África” (p 74). A memória, a solidão e a saudade que os pais lhe deixaram, nomeadamente a portentosa rememoração de Glória de Sant’Anna, não nos surgem como um qualquer rumorejar à margem dos seus contextos, elas são antes a afirmação de Relações que subsistem para além da presencialidade física do Outro. Assim como a Saudade que a Inez escreve à saciedade nada tem a ver com Pascoaes, já que é antes a constatação de um por si vivido que ainda permanece em toda a falha que transporta, daí essa saudade apresentar-se-nos sob uma multiplicidade de formas nomeadamente a invocação, a dor e o desalento: “chegaria até ti/ se a estrada não prendesse meu cabelo/ nos ramos do embondeiro e me quisesse lá” (p 30). A presença da terra mátria e da progenitora chega a assumir, por vezes, a fusão perfeita como no poema “Maama” (mãe, na língua macua): “limpa o caminho agreste de mato rasteiro/ de olho preto redondo e fixo/ pousa em minha mão como missanga perdida/ ao acaso” (p 13); noutras, invade mesmo o espaço do sagrado, como no poema “Senhora” onde uma tríade feminina se fecha sobre si própria: a mãe, a Virgem e a terra. Por fim, e como corolário deste quotidiano saudoso da poeta, a casa desvenda-se como instância a meio caminho da terra e da voz que naquela se inscreve, mas esta casa não é a representação sensível de uma qualquer entidade metafísica, nem sequer o sombrio espaço onde elites guardam o vinho, o kit e o sexo por fazer, a casa em Inez Andrade Paes, apesar de coisa objectiva, tem as PAREDES ABERTAS AO CÉU e a vida não se cumpre aí em exibicionismos de possuidores desapossados, mas antes na macieza de gestos simples e na autenticidade de sentires que ao olhar alheio se mostram sem pretensões nem ludíbrio: “ risos na sala aberta ao sol/ branca toalha na mesa/ a aba/ abana a aba// abana/ e no centro a chávena” (p 46), “ de repente/ sinto o ar morno da sala/ lento a chegar/ a embeber o ar frio/ e a espalhar um chão/ de mar/ transparente” (p 59).

Ao contrário do seu primeiro livro, “O Mar Que Toca em Ti”, neste a forte carga emotiva não se espraia pela obra num confessionalismo rondando o diarístico, aqui o pungimento das palavras da poeta não cai sobre as páginas sem antes ser submetido ao atento, e também sofrido, trabalho da razão: “ me devoro de ideias e sentimentos/ que não quero/ me devoro e cumpro mesmo/ errando na atmosfera deixada “ (p 63), “ envolvo o corpo em concha/ e medito/ no espaço/ entre a palavra dita/ e a ferida aberta” (p 67). E é este trabalho de um pensamento emotivo, ou de toda uma emotividade devidamente pensada, que, por sua vez, se enraíza e expressa numa terra bem sua, que faz da voz de Inez Andrade Paes uma voz singular, perfeitamente identificável e com um destino poético por cumprir.

                                                                         VICTOR OLIVEIRA MATEUS

                                                                        Lisboa, 14 de Março de 2011
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   Como sabem, adquiri a convicção de que o amor romântico é um sentimento humano universal, produzido por substâncias químicas específicas e estruturas cerebrais. Mas exactamente quais? Determinada a lançar alguma luz sobre essa magia que é capaz de fazer enlouquecer o mais lúcido dos homens, dei início a um projecto multiparcial em 1996, para recolher dados científicos relativos à química e aos circuitos cerebrais do amor romântico. Assumi que muitas substâncias químicas devem ter nisto participação, de uma maneira ou de outra. Mas centrei a minha investigação na dopamina e na norepinefrina, bem como numa substância cerebral com elas relacionada, a serotonina.
(...) Vejamos a dopamina. Níveis elevados de dopamina no cérebro provocam uma atenção extremamente concentrada, assim como uma motivação inabalável e comportamentos direccionados para um fim. Estas são características centrais do amor romântico (...) A euforia é outro aspecto notável dos amantes. Também ela parece estar associada à dopamina (...) A participação da dopamina pode também explicar porque é que os homens e as mulheres enamorados se tornam tão dependentes da sua relação amorosa e porque anseiam pela união emocional com o ser amado (...).
   À medida que uma relação amorosa se intensifica, esse pensamento irresistível e obsessivo pode aumentar, devido a uma relação negativa entre a serotonina e as suas parentes, a dopamina e a norepinefrina. À medida que os níveis de dopamina e de norepinefrina sobem, podem fazer com que os níveis de serotonina caiam. Isto poderia explicar por que motivo o crescimento do êxtase romântico de um amante intensifica de facto a compulsão para devanear, fantasiar, cismar, reflectir, obcecar-se com um parceiro amoroso.
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2008, pp 61 - 65.
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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

 
 
   Mesmo os povos dos quais não existem documentos escritos deixaram testemunhos dessa paixão. Com efeito, num levantamento de 166 culturas várias, os antropólogos encontraram testemunhos do amor romântico em 147, ou seja, em quase 90% das mesmas (...) desde a Sibéria ao interior rural australiano ou à Amazónia, as pessoas cantam canções de amor, compõem poemas amorosos e contam mitos e lendas de amor romântico. Muitos praticam magia amorosa - usando amuletos e talismãs ou servindo condimentos e preparados para estimular o ardor romântico (...)
   Da leitura dos poemas, canções e histórias de pessoas de todo o mundo, concluí que a faculdade do amor romântico se encontra solidamente urdida no tecido do cérebro humano. O amor romântico é uma experiência humana universal.
(...) Sem surpresa, concluí que este sentimento poderoso é uma combinação de vários traços específicos.
   Depois, para me certificar de que essas características da paixão romântica são universais, usei-as como base para um questionário que elaborei sobre o amor romântico (...) distribuí esse inquérito por homens e mulheres na Universidade de Rutgers e à volta dela, em Nova Jérsia, e na Universidade de Tóquio.
(...) Os resultados foram espantosos. Idade, sexo, orientação sexual, filiação religiosa e grupo étnico: nenhuma destas variantes humanas fez grande diferença nas respostas.
(...) Amor romântico. Amor obsessivo. Amor apaixonado. Atracção. Chame-se-lhe o que se quiser, homens e mulheres de todas as épocas e de todas as culturas têm sido "enfeitiçados, importunados e desconcertados" por essa força irresistível. Estar enamorado é algo que abrange toda a humanidade; faz parte da natureza humana.
   Além diso, essa magia visita cada um de nós de maneira muito semelhante.
 
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2008, pp 19 - 21.
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domingo, 2 de fevereiro de 2014






                      Clitemnestra em Berlim
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Este é o tempo das presas nunca saciadas. Das presenças
homicidas com que a sofreguidão enfeita minha vontade
sem impedimentos nem freio. Este é o tempo que sempre
quis: com o corpo apunhalado de Agamenón a meus pés,
os meus filhos como servos andrajosos, a minha cidade
aferrolhada no medo e o meu povo punido a rigor,
por essas virtudes - tão avessas à inclemência – com que


pintava sua felicidade de rebanho, sua rotina de escumalha
débil e incapaz, e que não merece perdurar nesta seleção
que astutamente para todos decidi. Este é o tempo
ao contrário do sol, ao contrário do ritmo das marés,
da luminosidade cíclica da lua e das obsoletas migrações
dos pássaros. Tempo de avidez, de força, desse ajuste
de contas que finalmente colocará Esparta no topo do mundo


e que nenhuma prece ou imprecação fará vacilar, nem tão-pouco
os cadáveres que meus seguidores amontoam desde o fedor
da Ágora ao brilho de Alexanderplatz. Este é o tempo sem
sossego dos que conseguem! O tempo dos vencedores:
voraz, ardiloso, sem escrúpulos. Um tempo que poderia até ser
figura do absoluto, não fossem os passos de Orestes, que,
justiceiros, tingirão- uma vez mais- a minha pátria de luto.



                         Mateus, Victor Oliveira. Cintilações da Sombra 2, Antologia Poética. Fafe: Editora Labirinto, 2014, p 87 ( Coordenação: Victor Oliveira Mateus).
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sábado, 1 de fevereiro de 2014

 
 
   Cette abondance de paroles constitue la preuve même que vous ne répondez pas à ma question. Qu'y a-t-il encore, en dehors de la mégalomanie?
Un auditeur: Un sentiment d'insécurité.
Un auditeur: Un sentiment d'infériorité.
   Oui, au lieu de la folie des grandeurs, on est atteint de la "folie de la petitesse". Le complexe d'inferiorité est un signe typique d'inflation. Il y a des petites souris invisibles et douces qui tyrannisent le monde. Elles souffrent, et tout le monde doit souffrir avec elles de l'inflation qu'elles subissent. On peut aussi subir une inflation de façon négative, c'est-à-dire en allant presque jusqu'à mourir de cette petitese. C'est comme de mourir de la folie des grandeurs. Personne n'est plus sensible que le sujet souffrant d'un complexe d'infériorité. Il convient de se comporter vis-à-vis de ces individus comme s'ils étaient le pape en personne; ils souffrent d'un complexe d'infériorité et le monde entier doit s'incliner devant eux, car il ne faut pas heurter le pauvre petit ver, pensez donc! Le complexe d'infériorité peut se révéler aussi pénible que la folie des grandeurs.
   En ce qui concerne l'identification au rôle du héros ou même au rôle divin, il n'est pas besoin de souffrir de schizophrénie pour se représenter soi-même sous les traits d'un héros. On réchauffe cette idée en soi-même jusqu'au jour où l'on se croit devenu le Messie. On se met alors à éprouver un détestable complexe d'infériorité, et on se console à la maison avec l'idée que le jour viendra où tout le monde pourra se rendre compte que l'on est un génie. Car il y a un rapport entre le très petit et le très grand: ils sont la manifestation d'une même chose.
 
 
  Jung, Carl Gustav. Sur l'interprétation des rêves. Paris: Albin Michel, 1998, pp 214 - 215.
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   La conclusion du rêve fait allusion à une prochaine conjonction de Mercure et de la Lune. La Lune symbolise toujours le Féminin, l'obscurité, la nuit. Elle est l' anima pour l'homme, un symbole de l'inconscient, alors que le Soleil represente la conscience masculine.(...) la conjonction de la conscience et de l'inconscient. Pourquoi établir la jonction avec l'inconscient? Quelle en sera la conséquence?
(...) Oui, la conscience n'existe pas originellement. C'est l'arrivée de Mercure qui la fait nàître. C'est dans ce sens que la coniunctio agit, de façon à faire pénétrer la conscience dans l'inconscient. Mais de quoi l'inconscient va-t-il remplir la conscience? Que lui apporte-t-il?
(...) Oui, l'inconscient, l'obscurité, vit et fonctionne de façon très simple. Il est. Mais cela, personne ne le sait, de sorte qu'on redoute l'inconscient et qu'on le tient à l'écart, de façon à ne pas devenir vivant et à pouvoir conserver toutes ses illusions. Cependant, l'homme est un penseur et possède une mémoire.
(...) La conscience est parfois ordonnée, parfois pas. De même que le désordre règne aussi parfois dans l'inconscient. Notre conscience ne connaît pas l'ordre, c'est pourquoi nous le trouvons dans l'inconscient. Voilà en quoi consiste la grande découverte: l'ordre se situe dans l'inconscient et non dans la conscience.
 
 Jung, Carl Gustav. Sur l'interprétation des rêves. Paris: Albin Michel, 1998, pp 114 - 115.
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