terça-feira, 30 de junho de 2015

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sinal da cruz ajuda, pelo menos libera
mas Deus não acho que goste de ser invocado
entrar na sujeira da vida, lambuzar-se na lama
a não ser que Deus fosse como ele, penasse
como ele, mas daí não servia, não adiantava
não mandava em nada, não mudava nada

    Oliveira, Vera Lúcia de. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras Editora, 2014, p 61.
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lavava a roupa
e a roupa levava fiapos
de seu corpo pelo ralo
um dia ia ficar tão
rala que sumiria
pelo buraco do cano


  Oliveira, Vera Lúcia de. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras Editora, 2014, p 27.
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Podem não conseguir nada.
Podem ser meticulosa
e requintadamente sufocados.
Podem até - quem sabe? -
ser passados a fio de espada, um a um.
De tudo o que é vil e hediondo
os poderão mesmo acusar,
através de cúmplices subornados,
de servos esperando um novo degrau
na hierarquia social,
de proxenetas que na ágora vendem agora
a honra alheia como outrora o peixe podre
com baba de larva à mistura.
De tudo serão capazes tais carcereiros.
Ou melhor: de quase tudo,
já que o sabor doce e portentoso
do grande não, esse,
esse parece ter-lhes escapado de vez.

V.O.M.



sexta-feira, 26 de junho de 2015

   " Teu olho fixa a bruma "


O teu olho embebido de tristeza
vê a bruma pesada de melancolia,
Virgílio e o mar da sua fantasia,
e tu carente de absurdos e beleza.


O teu olhar é mais olho do que sente
interiormente que do visual exterior
será tua alma vagamente ausente
quem entristece a bruma da paisagem?


E face ao ciclone, ao furacão, revolto
há-de teu olho resistir mesmo feliz,
e ser abstracção do violado real?


Dividido entre o naufrágio e a monção
entre o que és e o que vês, aceno vago
e desespero interior teu olhar voga.


   Lemos, Virgílio de. A Dimensão do Desejo. Maputo: AMOLP, Associação Moçambicana da Língua Portuguesa, 2009, p 106.
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a única luz é um fio
e não há nada a perder
nunca há alguma coisa
contrária à sua natureza
o vosso rosto levanta-se com o sol
o entorno é este pranto
dos pássaros
esperanto esperando-vos
pão e côdea reunidos
a caminho da mesma boca
sem peixe o pássaro
pode ser alcançado pelos gatos.


   Aguiar, Isabel. A Língua de esperanto dos pássaros. Fafe: Editora Labirinto, 2015, p 18. 
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

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(Ver abaixo, na minha nota, a referência à vertente psicologista que Vallet usa também na multidisciplinar análise deste caso, ilustrada aqui por este excerto) 


  Oscar Wilde est bien aussi asocial que le marquis de Queenberry. Tous deux se cherchent donc des plaisirs hors normes, l'un dans les outrances verbales et l'autre dans les excès sportifs. Le premier trouve son bonheur dans l'invention des mots et le second dans l'exercice du corps (...).
  Cette différence explique largement l'ascendant qu'exercera Oscar Wilde sur le fils de Queensberry, Alfred Douglas, rencontré quatre ans avant le procès. Alfred est déçu par un père fruste qui encourage plus l'entraînement de ses champions que les études de ses enfants. Il cherche, loin des sports paternels, d'autres sensations (...) et trouvera auprès de son nouvel amant le bagage culturel et le prestige intellectuel qui font défaut dans sa propre famille.
  Cet érotisme de tête (...) se nourrit d'une véritable fascination du cadet pour l'aîné, pour ses propôs non conformistes et son existence "libérée""...

   Vallet, Odon. L'affaire Oscar Wilde. Paris: Gallimard, 1997,  47 - 48.
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quarta-feira, 24 de junho de 2015


  Et devant la cour de l'Old Bailey, le procureur ( solicitor ) général de la reine, sir Frank Lockwood, attaque violemment l'accusé. Il est certes là dans son rôle de représentant du ministère public mais semble oublier tout ce que son honneur familial doit à Oscar Wilde: c'est en effet le neveu par alliance du procureur, Maurice Schawbe, qui a conduit Wilde dans la maison de rendez-vous où il a pu consommer les actes qui lui sont reprochés. Le poète a eu la délicatesse de n'en rien dire au procès mais l'oncle sévère ne lui en a pas été reconnaissant. (...).
  Le magistrat le plus équitable est, sans doute, le président Charles qui, lors du second procès à l'Old Bailey, fait preuve d'une remarquable objectivité et tient la balance égale entre la defense et l'accusation (...).
  Dans le cas d'Oscar Wilde, la séverité est au rendez-vous. Le troisième procès devant l'Old Bailey est présidé par sir Alfred Wills qui declare à l'ècrivain: "Votre cause est la plus vile que j'aie jamais eu à juger." Ce magistrat solennel, ancien président du Club alpin anglais, est un amateur d'alpinisme (...). Appréciant la compagnie virile des guides "vifs et musculeux" d'une "indéfinissable sauvagerie", sir Alfred n'apprécie guère le milieu efféminé dans lequel évolue Oscar Wilde...

 Vallet, Odon. L'affaire Oscar Wilde. Paris: Gallimard, 1997, pp 84 - 86.
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segunda-feira, 22 de junho de 2015


  Odon Vallet (Paris, 1947 -      ) publica, em 1995 na Albin Michel, a sua visão de "o assunto Óscar Wilde". Licenciado em Ciência Política e com dois doutoramentos: um em Direito e outro em Ciência das Religiões, a sua abordagem deste assunto afasta-se das tradicionais histórias do desgraçadinho, do perverso e/ou do génio incompreendido. Vallet disseca o tema partindo de três traves mestras: o contexto jurídico e político, a questão moral e religiosa e os aspetos psicológicos de todos os intervenientes. No primeiro aspeto, Vallet clarifica o facto de Wilde ter sido apanhado nas malhas de uma lei, aprovada até pela esquerda parlamentar, mas cujo objetivo inicial era bem distinto e de ter sido apanhado igualmente pela embaraçosa relação do então Primeiro Ministro, Lord Rosebery, com o irmão mais velho de Lord Alfred. O ódio do 10º Marquês de Queensbury relativamente a certos comportamentos estava, pois, mais do que justificado e era até conhecido de Wilde, que, mesmo assim se pôs a jeito, avançando com uma ação criminal por difamação contra Queensbury. As semelhanças e as diferenças quanto aos ideais de masculinidade entre Wilde e o seu rival, são neste livro analisadas com minúcia: Queensbury, prezando pouco as mulheres (???), usava-as... espancava mesmo a própria marquesa, que, por fim, teve de se afastar dele, ele preferia gastar todo o seu dinheiro com prostitutas e com os seus lutadores de boxe (???), um dos quais acompanhava-o sempre, até nas suas dispendiosas viagens ao estrangeiro, portanto, mesmo sabendo que estava perante uma masculinidade perturbada e homofóbica, mesmo assim Wilde nunca deixa de se pôr a jeito para o que lhe viria a acontecer. Para além de tudo isto, Vallet clarifica ainda os aspetos provenientes de raízes religiosas distintas: um Wilde vindo de uma Irlanda católica e um Queensbury rigidamente protestante.
  Este livro apresenta ainda um suporte documental bastante interessante.
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domingo, 21 de junho de 2015

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  Sinto-me subitamente ferida, agastada. Não seria assim tão subitamente... Mas, enfim, uma bagatela, uma pinga a mais no vaso cheio fá-lo transbordar: dá corpo e força às minhas velhas fantasias de revolta...
  Mas a minha revolta é calma, calada, fica só comigo. Entretenho-me com pensamentos mais crus e concretos que os meus habituais, quase sempre flutuantes e desinteressados. Mais nada. Mas aos poucos sereno.
  Não, ninguém me quis molestar! Todo o meu mal é apenas de situação, um mal de acaso. É um mal sem consciência, o mal da miséria; absolutamente incerto, inocente e irresponsável. E por tudo isto vou readquirindo o meu ar distraído e indiferente. Filosófico.
  Mas a minha indiferença, fruto de uma vida anormal, desaproveitada, não consegue amortecer de todo uma certa curiosidade, um distractivo apetite de me confundir com os que me cercam, e de os julgar. Não consegue!
  E assim, vegetando tranquilamente quase a um canto, pressinto ou noto que todas as criaturas se encobrem e se defendem das suas próximas! Que nós, afinal, somos como as coisas ou como os detritos do mar: chocamo-nos e apartamo-nos continuamente, vivemos num puro, permanente jogo de escondias...
  Cada ser que vive é um mistério! A sua rota é obscura e sinuosa, sempre complicada...

  Lisboa, Irene. Obras de Irene Lisboa, Volume II - Solidão. Lisboa: Editorial Presença, 1992, p 150.
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sábado, 20 de junho de 2015



     Tive de esclarecer a amável estranheza de Q. sobre o meu gosto de não ser conhecida.
     Gosto e utilidade!
     Mas não esclareci nada.
     Tratava-se de atitudes literárias.
  Escrever assim como escrevo, sem qualquer ambição de notoriedade, parece-me extraordinariamente útil. Mas não o sei pôr em linguagem clara! Por isso me embrulhei em evasivas. Desnorteei Q., que com a sua galantaria de lisboeta e de letrado, uma galanteria muito especial, me convidava a aparecer. Não sei onde, nem como.
    Eu suponho, em boa verdade, que os anonimatos, que a folga e a inteligência dos anonimatos, se não podem definir bem. Que por si se justificam. Um anonimato é vital e elementar, espontaneamente útil; cobre as necessidades de cada um que o usa, esporádicas ou permanentes. Mas há quem tome o anonimato dos artistas por uma espécie de tarrafias, de gracinhas, de jogo ou de vaidade... E sê-lo-á!
    A mim, porém, qualquer coisa mais grave e mais indeterminada me tem levado a adoptar o anonimato, os pseudónimos. Talvez um subtil espírito utilitário, de defesa. De inversão da arrogância, da combatividade, também. De timidez, ou de fuga à necessidade intelectual, ainda... Não posso precisar perfeitamente o que seja! (...)
     Que significa um nome de autor? Nada! (...)
   A literatura teve sempre muito de aberrativa, de fantasista. Nomes, pseudónimos, têm absolutamente o mesmo valor das figuras e das localidades. Não valorizam as obras.
    E sendo a minha análise sempre tão cingida ao passageiro, sendo uma espécie de exploração da rápida eventualidade, não poderá admitir com sofrível elegância, com propriedade, a variedade dos pseudónimos?
   Este meu escrever sobre nadas , creio que até me chega a dar uma absoluta indiferença pelas categorias literárias! Me desinteressa de todo o rang e classe... Me inquina cada vez mais de uma corajosa e perversa paixão de liberdade
    Os pseudónimos não me encobrem dos profissionais das letras, naturalmente!
    Mas o mundo deles não é o meu...
   O meu, o que por mim se interessa, com boa ou ruim humanidade, não é de letrados nem de artistas, nem sequer de gente de boa sociedade. É de gente de letras grossas! Grosseira, talvez, mas nem melhor nem pior que a outra.
(...)
   Devo ser prudente. Com a minha gente é que me tenho sempre encontrado, dela é que eu sou um ruim e claudicante membro, mas ainda assim, não desprezado... Esquecê-lo, seria ingratidão.


  Lisboa, Irene. Obras de Irene Lisboa, Volume II - Solidão. Lisboa: Editorial Presença, 1992, pp 89 - 90.
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quarta-feira, 17 de junho de 2015



O PRÉMIO CAMÕES de 2015 foi atribuído a HÉLIA CORREIA. A notícia foi divulgada hoje, 4ª feira, no Rio de Janeiro. Este Prémio, no valor de 100 mil euros, foi concedido por unanimidade por um júri formado por: Rita Marnoto, Inocência Mata, Pedro Mexia, Affonso Romano de Sant'Anna, Antonio Carlos Secchin e Mia Couto. O Prémio Camões foi instituído em 1989 por Portugal e pelo Brasil com o fim de reconhecer autores " cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento da literatura de língua portuguesa em todo o mundo."
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sábado, 13 de junho de 2015



   O meu desconsolo parece-me, às vezes, não ter fundamento nem valor ao pé do da I. Acho-a sem resistência, desorientada! E a sua confusão perturba-me. É absurdo o seu desejo de vingança; uma saída impraticável da sua má vida. Vingar-se, mas de quem ou de quê? De si própria?
   O que sentimos e a que chamamos mal, de onde nos vem? Penso frequentemente que de nós próprios. Da nossa inconsciência ou fraqueza, da insuficiente oposição que fazemos aos outros, aos nossos exploradores, do nosso pouco tacto e arte de premeditação, etc. Mas também penso que os próprios fortes são vencidos, que também são desmoralizados... O acaso rege francamente as vidas? É provável! (...)
   Hoje é quinta-feira. Um dia qualquer...
   Mas tenho ainda viva em mim uma simples hora do dia de ontem. Passageira.
   Começava a escurecer. Ia pelo corredor e encostei-me à ombreira da porta. E tive vontade de dizer: (mas a quem? nem sequer o sabia!). Vê, olha comigo... deixa-me descansar em ti este espírito e este corpo mole...
   Uma mulher deve naturalmente nascer e morrer a dizer destas coisas, em mente, até se cansar...
   Encostada ali àquela porta, que estava eu, sem querer, figurando? A eterna insegurança, o eterno desejo.
   A vida corria, desdobrava-se, dava sinais de si por lugares que eu desconhecia, em que não tinha acolhida... Escapava-se-me, como sempre.
   Se eu pudesse explicar bem os meus apetites... que quereria naquele momento? Nada! Creio que nada. Como tantas vezes, tinha vontade de chorar, de me cansar, sobretudo.
   Aquelas luzes da cidade a acender-se, a acompanhar-me... friamente, elegantemente!
   E eu, uma mulher, um ser íntegro, vivo, encostada para ali à ombreira de uma porta! Longe de mim todas as correspondências. Longe, ou impossíveis!  


  Lisboa, Irene. Obras de Irene Lisboa, Volume II - Solidão. Lisboa: Editorial Presença, 1992, pp 41 - 42.
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quarta-feira, 10 de junho de 2015

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      " Zonas de risco "

É de uma voz,
não dos sonoros sons, nem dos silêncios,
esses que vivem presos
às palavras

É de uma voz em haste ou
pena de pavão, os pontos circulares
e desenhados, olhos de pura
seda e ao canto: lençol, tela,
um pano de navio

É de uma voz
aberta em leque impuro,
uma sombra chinesa
rasgando a cal mais pura
da parede

É de um abismo cheio a luz
que falo

como estar dentro
de um vórtice
de mar

as velas a bater
livres
sem rumo ___


 Amaral, Ana Luísa. E todavia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2015, pp 83 - 84.
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terça-feira, 9 de junho de 2015





  " Borboletas de noite "


Rasgou-se a solidão e o
meu conforto:
nesta mesa, sou musa
de mim mesma


Ao desejar
sombrias borboletas,
marquei o meu
destino


Brecha a partir
de sempre,
mais funda e persistente
que faca de cozinha


ou espada


Frincha de frio,
porta nem de ninguém:


fechada


  Amaral, Ana Luísa. E todavia. Lisboa, Assírio & Alvim, 2015, p 58.
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sábado, 6 de junho de 2015



  "  Deste-me a um rio "


Deste-me a um rio e eu me fiz águia
para trefegar sobre o fluxo.
Córrego fui. Amálgama.
Compêndio onde a flor descansou
o ocaso.


Dormi em ti
provei do fruto
condenei o futuro a custo de uma verdade.


Em tuas américas cresci
- e mesmo sendo uno -
morei entre dois continentes:
palavras.


  Silvério, Diego Nogueira. acervo de pássaros em desuso. Fortaleza:  Projeto gráfico/ Editoração e Diagramação, 2015, p 50.
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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Nota - o Prefácio deste livro é um texto meu que se encontra alguns posts mais abaixo.


    " Dentro do teu percurso "


Dentro do teu percurso colocar o acaso.
Transgredir as possibilidades de encontro.
Criar nossa forma que envelheceu num aquário
mas suplica uma segunda vez.
Plantar um pássaro nos cômodos do teu silêncio
para fazer voar tua voz. Unir meu sono a tua boca
minha confusão ao teu casulo. Florescer na tua língua
até pegar gosto de palavra.


   Silvério, Diego Nogueira. Acervo de pássaros em desuso. Fortaleza: Projeto gráfico/ Editoração e Diagramação, 2015, p 48.
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quinta-feira, 4 de junho de 2015

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  " Uma americana lavada no mar "

Levo redondas e maciças estas imagens
areias em ténis e pratas deitadas
falo de traços de quem vê de lado
um sol de cada vez mas só um

Sigo distâncias que se estiravam à frente
voltas e regressos por caminhos
à mão que estavam ali
e que já não estão

Só na vontade da gente
mas é assim

E depois são repentes estas figurações
fios de massa no prato e
eis caminhos que se desfazem
vendo nós a passagem tão de cima
a superfície despida e franca
despovoada e à mostra
um bater extravagante

Por vezes junto bocadinhos de bolacha no prato
mas não é a mesma coisa


  Machado, Hugo Milhanas. Onde fingimos dormir como nos campismos. Lisboa: Enfermaria 6, 2014, p 57.
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quarta-feira, 3 de junho de 2015



        " Outra pedra parecida "


Podia ficar
mas já vai rasando
e arrefece bronze o mecanismo
a carne sossega e tocamos
avançamos nessa noite de confiança
onde respiramos melhor


Nenhuma voz se parte a falar
mexes o meu café
mas é pouco


Olha bem o tempo
como é estupenda esta cor
um dia tudo isto será chão
e aqui os nossos lugares
que ao chegar diremos
eu vim contigo desfazer espaços


Sabe bem a voz estragada e poder prometer
quando estamos capazes de prometer


Vamos vendo dos caminhos
o passo é lento aguenta
pode até ser esta a época


    Machado, Hugo Milhanas. Onde fingimos dormir como nos campismos. Lisboa: Enfermaria 6, 2014, p 42.
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terça-feira, 2 de junho de 2015

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As memórias deviam arrancar-se.
Cabelos brancos puxados à pinça.
E em casos extremos de resistência:
sessões de quimioterapia.
Pilosidades varridas.

   Chéu, Cláudia Lucas. Trespasse. S/c.: Edições Gilhotina, 2014, p 58.
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