domingo, 17 de julho de 2016



    "  Nombre u Objeto "

El amor pide amor, lo pide sin cesar - Lo pide
siempre aunque se represente a sí mismo
en desencuentros. El amor es dar
lo que no se tiene a quien ni siquiera es. Mirad
al John Donne enamorado que podía
completar una naranja eterna. El creyó en el día
infinito y no asistió al Seminario
VIII de Lacan. Él inventó con sabiduría aquello
mismo que trinaba el mirlo
en su jarddín: que no existe muerte personal que
valga - que siempre se muere
en otro, al que la culpa del fracaso se transfiere.
Se trataria pues de escoger bien
la Cosa que inmóvil pase por ello y no se
aleje de nosotros. Una de dos: Nombre u Objeto.


  Veyrat, Miguel. El Hacha de Plata. Sevilla: Ediciones de La Isla de Siltolá, 2016, 99.
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sexta-feira, 15 de julho de 2016



  " Un Buen Negocio "


Prevalece pues poeta lo que creaste.
El precio será tu muerte
física o civil - pues el odio
por lo que suena entre los silbos
del bosque al desvelar lo que debía
ocultarse, nunca logra que pase
inadvertido aquello que tú
amaste - bruma de lo que no podría
ser dicho en lengua alguna
y cantan tus lenguas desde el ramaje.


  Veyrat, Miguel. El Hacha de Plata. Sevilla: Ediciones de La Isla de Siltolá, 2016, p. 85.
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quinta-feira, 14 de julho de 2016

(Nota - A minha relação com o meu livro Regresso (2010), por razões que aqui não importam, foi sempre algo atribulada. A partir de certa altura, deixei mesmo de regressar a ele. Por outro lado, exceptuando o poema "Num café da Via Monginevro" que viria a surgir em vários blogues e Antologias, todos os outros textos do livro acabariam ignorados. Foi, pois, com alguma surpresa que acabei de encontrar, no último livro do poeta espanhol Miguel Veyrat ( El Hacha de Plata, La Isla de Siltolá, 2016) três versos de Regresso - vs. 1-3, Ainda no café - como epígrafe de uma das secções ( Pangea Pintada de Azul ) do seu livro aqui referido. Este gesto, de alguém que eu considero um Mestre - no sentido clássico do termo! - levou-me a reler esse meu livro por mim colocado à margem e levou-me também a - reconsiderando a qualidade dos poemas - fazer as pazes com a Voz Poética que há muito tempo estava encerrada, e sem remissão, em todas aquelas páginas.)
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     "  Notas Doce  "


Lo que se pudre es el tiempo
no el hombre proclamado
a imagen y semejanza
del gran arquitecto del grito.
El hombre, el que se
renueva siempre en marcas
- hermas, notas doce
que resuenan en su pecho al
compás de las estrellas:
a contar desde el verbo Domi
nante - el quinto nacido
desde la voz primera
en enviar su tono al caos solar.
El otro lado ya no existe,
ya no hay más allá: memorias
incompletas prosiguen
su latido tras la mística
droga llamada incertidumbre.
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     Veyrat, Miguel. El Hacha de Plata. Sevilla: Ediciones de La Isla de Siltolá, 2016, p. 45.
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quarta-feira, 13 de julho de 2016


 Poema 7 do ciclo " Quanto tempo dura uma geração? "


Não há nada maior ou mais antigo que o Universo
dantes acreditava-se que o Universo era uma coisa estática
só depois é que se percebeu que está em expansão
isto faz com que galáxias que já estiveram aglomeradas
fiquem de dia para dia mais distantes umas das outras
uma espécie de Pangeia cósmica
é claro que este efeito de expansão e distanciamento aplica-se
às pessoas
ao seu universo.


   Chéu, Cláudia Lucas. Pornographia. Fafe: Editora Labirinto, 2016, p. 100 ( Prefácio de Miguel Real).
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terça-feira, 12 de julho de 2016




Não consigo escrever-lhe, sequer uma linha, sem ser
cilindrada.
Morro a cada sílaba.


   Chéu, Cláudia Lucas. Pornographia. Fafe: Editora Labirinto, 2016, p. 59 (Prefácio de Miguel Real).
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     "  PLANO A  "


Estou nua ao abrir-te a porta, entra
e arrasta-me até à parede,
lambe-me a boca, és um cão, e
abocanha-me os mamilos, erectos,
depois, apalpa-me a cona com a mão toda
e com os dedos, afasta-me os grandes lábios,
até ao clítoris, com intenção,
e esfrega-o, hábil, nessa tarefa de fornicar mulheres,
encurralando-as
com o teu corpo, dá-me com toda a força contra o muro,
até escorrer água da pele que não sua, nunca,
e escorregar até ao chão, onde de barriga para baixo
me enfias os dedos e me fodes os buracos todos.

As palavras acabarão por vir.


    Chéu, Cláudia Lucas. Pornographia. Fafe: Editora Labirinto, 2016, p. 23 ( Prefácio de Miguel Real).
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segunda-feira, 11 de julho de 2016



                  "  No Quiero  "

No quiero una patria que me entierre
que me traiga a la boca aquello que queríamos ser.

No quiero un amor que me fatigue
que se me suba al cuello sólo por venganza.

No quiero una madre que me proteja
si no la tengo al lado cuando el tiempo se vaya.

Sin patria, ni amor, ni madre
a dónde podré volver?


  Bilbao, Leire. (Tras)lúcidas, Poesia escrita por mujeres (1980-2016). Madrid: Bartleby Editores, 2016, p. 265 ( Edición de Marta López Vilar).
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A versão primeira deste poema está em língua basca:


     " Ez Dut Nahi "

Ez dut lurperatuko nauen aberririk nahi,
izan nahi genuena ahora ekarriko didanik.

Ez dut nekatuko nauen maitasunik nahi,
lepora igoko zaidanik mendeku hartzeko ez bada.

Ez dut babestuko nauen amarik nahi,
alboan izango ez badut denbora badoanean.

Ez aberri, ez maitasun, ez amarik
ez badut, nora itzuliko naiz?


    Bilbao, Leire. Idem, p. 264.
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sexta-feira, 8 de julho de 2016


TU recuerdo,
empecinado pájaro que me despierta en la noche.
Culebra que desova sobre el azúcar y el llanto.

No hay manzanas en el sacrificio
Ni joyeros de nácar girando en la ignorancia.

Solo el regurgitar de la memoria,
el acopio de años,
tu madeja infinita,
itinerante,
alrededor del corazón.

Qué se esconde al otro lado
de esa mujer que era mi madre
y enloquecia más con cada internamiento.

Tu ojo se entreabre con la insolencia de lo insomne,
de la vigilia ciega y la esperanza.

Tu ojo, madre,
eternamente abierto
como una gran pregunta.

Tu ojo centinela iluminándome,
tus palabras formando un avispero
en mitad de la infancia.


  Acquaroni, Rosana. (Tras)lúcidas, Poesía escrita por mujeres (1980-2016). Madrid: Bartleby Editores, 2016, p. 103 (Edición de Marta López Vilar).
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quinta-feira, 7 de julho de 2016



Qué cuenta el pájaro turbado por la tempestad?
Cómo predijo el azar de oscura fuente?
No volverá, no volverá a la muda
y dolorosa sangre de su hogar.

Quién percibe húmedas alas en la noche?
De dónde proceden vientos ajenos que no le previenen?
Nada le espera, nada lo hace avanzar:
abandona plumas en el aire donde se aliena.

Mas, si su cuerpo hallarais, preservad el agua
que duerme perdida en sus ojos desarraigados.


   Rafart, Susanna. (Tras)lúcidas, Poesía escrita por mujeres (1980-2016). Madrid: Barteby Editores, 2016, p. 69 ( Edición de Marta López Vilar ).
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terça-feira, 5 de julho de 2016


Sessão de apresentação do livro "Palimpsesto" na Biblioteca da Casa do Alentejo em Lisboa, no dia 25 de junho de 2016. Na mesa, da esquerda para a direita: Pedro Lamares, Ricardo Gil Soeiro, António Luís Catarino e Victor Oliveira Mateus.


    6. Ich bin der Engel der Verzweiflung, 1979: Heiner Muller


Anjo de desespero ou não,
aqui me tens - rendido à
mesma ladainha do vazio.
E se assim me furto a umas
quantas definições inteligíveis
é porque nem eu próprio sei
o que fazer com o que
sobra dos destroços.
Se de silêncio se faz a minha fala,
este grito negro é o meu canto.
De costas voltadas para o mundo,
amordaço o sopro e reconheço,
no abismo do que virá, o desabrigo
onde inscrevo o clamor da morte.


  Soeiro, Ricardo Gil. Poema 6 do Volume "Anjos Necessários, Para uma Escrita do Desejo" in Palimpsesto. Porto, 2016, p. 152.
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segunda-feira, 4 de julho de 2016



   "  26. Nota de denúncia  "


Hoje é o silêncio quem reina:
esquece por momentos a persistência
de noites e invernos.
Davas-me por perdido,
mas fui eu quem te encontrou
assim levemente abandonada.
O que finalmente somos:
vozes meticulosamente alvoroçadas,
veneno atroz disputado pelo tempo.
Haverá amanhã, todavia:
não faças caso, amor desperdiçado,
e acredita no enredo de jamais ter sido.
Sabendo de antemão de segredos repartidos,
o que vai ser de nós, agora que desbaratámos
as difusas poupanças de uma vida?
Não te zangues:
se te digo tudo isto
é porque é mentira esta melancolia.
Haverá amanhã, é o que é:
o consolo chegará na forma de um cigarro
reluzente que não chegaremos a estrear.
Respirando a luz prostrada,
precisaria de saber mais:
se ainda me amas, por exemplo;
se nos pertencem os inícios e os atalhos,
se inventaremos, de novo, o fulgor intacto.
Enquanto espero pelos dias,
conformo-me com a redenção
de algum olhar teu - subtil, luciferino,
que já não rasgue oceanos de mistério.
Sei que ainda habitas debaixo
de braços, lábios e lençóis:
o que te denunciou?
Sílabas brilhando...
Não te zangues, meu amor:
estas minhas palavras
- somente puro regateio.


  Soeiro, Ricardo Gil. Poema 26 do Volume "Bartlebys Reunidos, Para uma Ética da Impotência" in Palimpsesto. Porto: Deriva Editores, 2016, pp 95 - 96.
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domingo, 3 de julho de 2016


   "  9. Poética do voo  "


Para onde quer que decidam
rumar os meus desejos, sempre
me acompanha este infeliz defeito
de fabrico: desejar ser, como toda
a gente, não real, mas livre e certo.
E, mesmo que quisesse, não saberia
explicar tão insensato devaneio.
Imaginem só:
um inofensivo esboço inanimado,
sucumbindo perante a desmesurada
ambição de querer voar.
Sobrar-me-ia de amarras invisíveis
e, em diáfano véu me camuflando,
ensaiaria as mais empolgantes evasões.
Em voo destemido,
porém com mil e um cuidados,
passaria a pente fino
os recantos deste teu
pobre mundo tão coitado.
Tudo com o máximo das cautelas,
para não incorrer em escusados sobressaltos.

O risco dos princípios,
do ardor,
da distância aqui ardendo.


  Soeiro, Ricardo Gil. Poema 9 do Volume "Da Vida das Marionetas, Para uma Dramaturgia do Corpo Inanimado" in Palimpsesto. Porto: Deriva Editores, 2016, p. 23.
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sábado, 2 de julho de 2016