domingo, 18 de junho de 2017


Escuta:
este é o som falível
das minhas asas,
partindo-se.

Aí mesmo,
onde se tocam,
bem ao de leve,
abrigos e remorsos,
somos levados a aprender
como se emendam conjecturas,
i.e., arquitecturas movediças.

E, porque ainda me resta
a sabedoria dos ausentes,
decido voltar ao que,
afinal, sempre terei sido:
este arquipélago de sombras
em farrapos e feridas em surdina.

Transformo-me em insolente
desperdício de quimeras,
em jeito de banal esboço,
desenhado a contrapelo.

Não conheço melhor
destino do que este:
ser vagabunda bússola,
ansiando o imortal ardor
de murmúrio nenhum.


 Soeiro, Ricardo Gil. A Rosa de Paracelso. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2017, pp 57-58.
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