domingo, 21 de agosto de 2016


          "  L'enfant  " (1)


Les Turcs ont passé lá. Tout est ruine et deuil.
Chio, l'ile des vins, n'est plus qu'un sombre écueil,
    Chio, qu'ombrageaient les charmilles,
Chio, qui dans les flots reflétait ses grands bois,
Ses coteaux, ses palais, et le soir quelquefois
    Un choeur dansant de jeunes filles.

Tout est désert. Mais non; seul près des murs noircis,
Un enfant aux yeux bleus, un enfant grec, assis,
    Courbait sa tête humiliée;
Il avait por asile, il avait pour appui
Une blanche subépine, une fleur, comme lui
    Dans le grand ravage oubliée.

Ah! pauvre enfant, pieds nus sur les rocs anguleux!
Hélas! pour essuyer les pleurs de tes yeux bleus
    Comme le ciel et comme l'onde,
Pour que dans leur azur, de larmes orageux,
Passe le vif éclair de la joie et des jeux,
    Pour relever ta tête blonde,

Que veux-tu? Bel enfant, que te faut-il donner
Pour rattacher gaiment et gaiment ramener
   En boucles sur ta blamche épaule
Ces cheveux, qui du fer n'ont pas subi l'affront,
Et qui pleurent épars autour de ton beau front,
    Comme les feuilles sur le saule?

Qui pourrait dissiper tes chagrins nébuleux?
Est-ce d'avoir ce lys, bleu comme tes yeux bleus,
   Qui d'Iran borde le puits sombre?
Ou le fruit du tuba (2), de cet arbre si grand,
Qu'un cheval au galop met, toujours en courant,
  Cent ans à sortir de son ombre?

Veux-tu, por me sourire, un bel oiseau des bois,
Qui chante avec un chant plus doux que le hautbois,
    Plus éclatant que les cymbales?
Que veux tu? fleur, beau, fruit, ou l'oiseau merveilleux?
- Ami, dit l'enfant grec, dit l'enfant aux yeux bleus,
    Je veux de la poudre et des balles.


(1) Um dos poemas mais divulgados do livro "Les Orientales" (1829) e que fala da guerra de independência da Grécia relativamente ao império turco.  Nesta guerra rapazes jovens lutavam ao lado das forças independentistas;

(2) Árvore mítica pertencente ao paraíso muçulmano, simboliza a felicidade e a abundância.


  Hugo, Victor. Oeuvres Poétiques, Anthologie. Paris: Le Livre de Poche, 2002, pp 55-56.
.
.
.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016


   
.
.
                  "  UMA VOZ SOLITÁRIA "

  
                                ) 1 (

Solidão.
          Couraça.
                     Sou um teu sobrevivente.

O outro que restava
morreu lá longe
quando viu os pássaros acasalarem.

Solidão.
          Amarra.
                    Sou o teu salvo-conduto.

Vou, transido de medo,
por essas veredas
onde apenas parece ouvir-se
como imploram, no vento,
as brisas que insistem em amar-se.


                         )  2  (

Acompanho-me.
Faço-me outras gentes.
Vou-me repartindo.

Dou-me medo neste só
e procuro-me, sabendo
que não há forma
de que as mesas, por exemplo,
me sejam companhia.

Nem que o amor o seja.
Só este corpo inaudito em que sou
como carne
a que este sangue acrescenta o que sou
como vinho.


                        )  3  (

Passo a noite no cais
junto ao cão de três cabeças.
Caminhamos firmes
rumo à estação seguinte
onde ainda permanecem as folhas
do último outono.


                       )  4 (

Vale mais estar só do que muito só.
Demora mais o só a sair de sua ausência
do que uma agulha a atravessar os poros de uma palha.


                       ) 5 (

Nos dias de hoje até o céu
anda com uma solidão de tal modo azul
que se dispersa.


                        ) 6 (

Aqui me reconheço: sou como barro
que quis ser vasilha e acabou testemunho
de um ser em mim feito postigo
nesta portinhola a que me amarro

Aqui sou outra coisa que tanto temo.
Sou uma solidão que grita desenfreada,
que vibra como o mar enquanto te apequenas
em plena tempestade de um céu ameaçador.

Vejo-me como vala de uma esquina
enredada ao longo da espinha
para iludir a emoção.

E no meio deste frio que é a vida
através da minha sombra ainda indefinida
cresce-me este outro eu no coração.


                         ) 7 (

Tudo: as malas. Os corpos.
As tapeçarias. A areia. Os risos.
O condor. O jaguar. Os vasos com sede.
A sede dos castanheiros.
A macieira fustigada pelo inverno.
Tudo: até o mosquito que nos perturba
o sono, tudo se vai, definitivamente,
para a teia sem saída da solidão.


                        )  8  (

Que o solitário abra o mar de Moisés
e se afogue
nesse acontecimento.
Que nem sequer tenha tempo de olhar para trás
porque aí se converteria em estátua de sal
e estaria mais só do que nunca.
Mesmo que por pombas estivesse acompanhado.


                       ) 9 (

Virá a morte
        e a solidão far-se-á
        o menos profundo dos mistérios.



  Troncoso, Xavier Oquendo. Cintilações: Revista de Poesia e Ensaio, Nº 1 setembro 2016.. Fafe: Editora Labirinto, 2016, pp 91 - 94  ( Tradução de Victor Oliveira Mateus).
.
.
.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016



  Final do " Canto XXXI-Sobre o retrato duma bela dama esculpido no seu túmulo "


(...)

Por natural virtude,
uma sábia harmonia
inspira ao sonhador
desejos infinitos e sublimes visões;
por isso em mar oculto, deleitoso,
erra o espírito humano,
semelhante a ousado
nadador que por gosto sulca o Oceano:
mas se um acorde dissonante
fere o ouvido, em nada
aquele paraíso se transforma num instante.

Natureza humana, como podes,
tu, que és tão baixa e frágil,
que és sombra e pó, sonhar tão alto?
E, se alguma nobreza também guardas,
como podem teus mais dignos
pensamentos e emoções tão facilmente
de tão baixas causas provir e extinguir-se?


  Leopardi, Giacomo. Cantos. Porto: Asa Editores, 2005, p. 237 ( Tradução, apresentação e notas de Albano Martins).
.
.
.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016



  Excerto do " Canto XIX - Ao Conde Carlo Pepoli "

(...)
Aquele a quem o culto das vestes e cabelos
e dos gestos e dos passos e os vãos cuidados (1)
de coches e cavalos, e as concorridas
salas, e as buliçosas praças, e os jardins,
aquele a quem jogos e cenas e cobiçados bailes
ocupam a noite e o dia; esse de cujos lábios
não se aparta o sorriso; ai, mas no peito,
no íntimo do peito, grave, fixa imóvel,
como coluna adamantina, mora
tédio imortal, contra o qual nada pode
vigor da juventude, e nem doce palavra
de rosados lábios a derruba,
nem o olhar terno, trémulo,
de duas negras pupilas, o olhar querido,
das coisas mortais a mais digna do céu.
Outros, como para evitar a triste
sorte humana, a mudar terras e climas
o tempo consumindo, e por mares e montes errando,
todo o orbe percorrem, os confins
dos espaços que ao homem nos infinitos
campos de par em par a natureza abriu
peregrinando alcançam. Aí, ai, sentou-se
na alta proa o negro cuidado (2), e sob
qualquer clima, qualquer céu, em vão se invoca
a felicidade, vive e reina a tristeza.


(1) As ocupações frívolas;
(2) O tédio.


  Leopardi, Giacomo. Cantos. Porto: Asa Editores, 2005., pp. 147-149 ( Tradução, apresentação e notas de Albano Martins).
.
.
.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016



   " Canto XI - O Pássaro Solitário "


Do alto da torre antiga,
ó pássaro solitário, para o campo
voas cantando até que o dia morre;
e a harmonia erra por este vale.
(...)
Ouve-se o balir dos rebanhos, o mugir do gado;
alegres, as outras aves, à compita,
pelo céu livre fazem mil rodeios,
festejando o seu melhor tempo:
tu, pensativo, olhas de lado tudo;
nem companheiros, nem voos,
não te importa a alegria, evitas os folguedos.
Cantas, e assim passa
da tua vida e do ano a mais bela flor.

Oh, como se parece
ao teu o meu viver! Divertimento e riso,
da tenra idade doce família,
e de ti, irmão da juventude, amor,
suspiro amargo dos passados dias,
não curo, não sei porquê; ou antes, deles
como que fujo para longe;
como um eremita e estranho
ao meu lugar de nascimento,
da minha vida passo a primavera. (...)

Tu, pássaro solitário, chegado ao fim
do tempo de vida que os astros te concedem,
da tua existência
não te queixarás; que da natureza é fruto
cada desejo teu,
A mim, se da velhice
o aborrecido limiar
evitar não consigo,
quando aos outros estes olhos já não inspirarem sentimentos
e vazio se lhes torne o mundo e o futuro
mais enfadonho e negro que o presente,
que me parecerá de tal desejo?
E destes anos meus? E de mim próprio?
Oh! arrepender-me-ei, e muitas vezes,
mas inconsolável, voltar-me-ei para trás.


  Leopardi, Giacomo. Cantos. Porto: Asa Editores, 2005., pp. 103-105 ( Tradução, apresentação e notas de Albano Martins).
.
.
.

domingo, 7 de agosto de 2016


   Final do "Canto VI - Bruto Menor"


(...) Para pior
caminham os tempos; e não pode confiar-se
a corruptos descendentes
a honra de egrégias mentes e a suprema
vingança dos infelizes. Que à minha volta
as penas rode o ávido escuro pássaro (1);
que a fera arremeta e a tempestade
arraste os ignotos despojos;
e o vento o nome e a minha memória acolha.


(1) o corvo.


  Leopardi, Giacomo. Cantos. Porto: Asa Editores, 2005, p. 71 ( Tradução, apresentação e notas de Albano Martins).
.
.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016


Na última semana do próximo mês de setembro, será apresentada em Lisboa, em local e dia a confirmar
"CINTILAÇÕES: REVISTA DE POESIA E ENSAIO", Nº1 setembro 2016.

Coordenação: Victor Oliveira Mateus
Apresentação a cargo de: Jessica Falconi


A Revista contará com as colaborações dos seguintes POETAS E ENSAÍSTAS:
.
Adalberto Alves, Albano Martins, Alberto Pereira, Alberto Riogrande, Alexandre Bonafim, Alice Fergo, Amadeu Baptista, Amadeu Liberto Fraga, Ana Mafalda Leite, Ana Maria Puga, André Alves, António de Almeida Mattos, António Cândido Franco, Antonio Carlos Secchin, António Ferra, António José Queiroz, António Salvado, Artur Coimbra, Carlos Afonso, Casimiro de Brito. Cecília Barreira, César A. Miranda de Freitas, Cláudia Lucas Chéu, Cláudio Lima, Daniel Gonçalves, Ernesto Rodrigues, Eugénia Bettencourt, Iacyr Anderson Freitas, Inez Andrade Paes, Isabel Cristina Pires, Jeannette L. Clariond (1), Jessica Falconi, João Rasteiro, Jorge Velhote, José Jorge Letria, José Viale Moutinho, Julia Barella (1), Júlio Ferreira Leite, Luís Aguiar, Luís Fernando Chueca Field (1), Luís Filipe Pereira, Luís Filipe Sarmento, Luís Quintais, Maria Augusta Silva, Maria José Quintela, Maria Quintans, Marisa Martínez Pérsico (1), Mbate Pedro, Montserrat Villar González (2), Orlando Barros, Paulo Inocêncio Moreira, Paulo Pego, Renata Pallottini, Renato Epifânio, Ricardo Gil Soeiro, Ricardo Marques, Rui Rocha, Ruy Espinheira Filho, Samuel Pimenta, Sérgio Laignelet (1), Vicente Alves do Ó, Xavier Oquendo Troncoso (1), Xosé Lois Garcia (3).
.
(1) Poetas e Poetisas de: México, Espanha, Peru, Argentina, Colômbia e Equador traduzidos para português por Victor Oliveira Mateus.
(2) Poetisa espanhola traduzida para o português por Jorge Fragoso.
(3) Poeta espanhol que virá em Língua galega.
.
.
A equipa que esteve envolvida neste projeto agradece a todos os colaboradores a generosidade demonstrada. No meu caso específico, agradeço também a todos os poetas estrangeiros que me entregaram os seus poemas e confiaram no meu trabalho de tradução. Espero não os ter desiludido, já que os originais são autênticas obras de arte. Obrigado a todos!
.
.
.