sexta-feira, 30 de junho de 2017



"A utilidade da competição"


Uma voz anuncia o repto:

O último a chegar ganha

os competidores hesitam

O último a chegar ganha

a voz repete-se e a confusão mantém-se sobre os competidores

O último a chegar ganha

então todos começaram a correr mas sem saberem como ganhar


Costa, Tiago Alves, Mecanismo de Emergência. Santiago de Compostela: Através Editora, 2016, p 109.
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quarta-feira, 28 de junho de 2017


"Das nove às seis da alegria triste"


Eu queria ser um fiel cumpridor das minhas funções.
Eu queria ser um trabalhador obediente.
(Das nove às seis da alegria triste)
Eu queria tomar o meu café à hora certa com os amigos que tracciono.
Eu queria ser um criminoso honesto funesto doméstico homem
Um homem: eu queria ser um homem.
Deixar fazer a digestão do almoço que detesto.
E celebrar as vitórias do meu clube que não tenho.
E ser feliz com a função que odeio:
empregado das horas - das nove às seis da alegria triste

Mas nem isso consigo.


Costa, Tiago Alves. Mecanismo de Emergência. Santiago de Compostela: Através Editora, 2016, p 35.
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segunda-feira, 26 de junho de 2017


Oiço-te através de uma janela de mulher
recebo o fruto dos teus dedos dos teus olhos
do subtil grito da tua língua
transparece o azul
num país de um pássaro branco

És tu o teu sangue límpido
enevoado como um trémulo fruto
és tu no espírito de delicadeza
e a tua sede de rapariga e o teu nome
Como um pássaro de uma só nota pura
é o ar num verão de cinza
és uma estranha estrela estrangeira na minha vida
Ah! que fineza formal
de deslumbrada tristeza
ou de alegria ferida pelo fulgor de uma pedra


 Rosa, António Ramos e Gisela Gracias Ramos Rosa. Vasos Comunicantes. S/c.: Poética Edições, 2017, p 30.
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domingo, 25 de junho de 2017



A simplicidade chega
sem a virtude de uma inteligência afirmativa
mas simples
eu não posso compreendê-la

Vejo-a como uma expressão pura e livre
como uma planta uma andorinha ou uma estalactite
um pouco trémula no instante de nascer

Ó ternura de um primeiro arbusto
de uma primavera antiga


  Rosa, António Ramos Rosa e Gisela Gracias Ramos Rosa. Vasos Comunicantes. S/c.: Poética Edições, 2017, p 174.
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sexta-feira, 23 de junho de 2017




Chegamos ao fim do dia e cada um
pensa para seu lado que isto não
é vida, deixámos na terra os habituais
sinais com tanto de amor como
de desespero e, de mãos vazias,
de coração ainda com alguma coisa
mas quase vazio, batemos com a força
que nos resta, pela última vez, à porta
das sensações e a porta das sensações
abre-se-nos muito devagar
para uma esplendorosa noite cinzenta.


   Pereira, Helder Moura. Golpe de Teatro. Porto: Assírio & Alvim, 2016, p 61.
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quarta-feira, 21 de junho de 2017


Semente alada, borboleta de terra
e curta viagem. Que aterra num sítio
à escolha do vento, tal como nós,
que nos encontrámos quando se formou
um remoinho ao mesmo tempo,
no mesmo lugar, onde cada um
do seu lado do passeio ia a passar.
Deve ser a isto que se chama
o mais puro acaso, o remoinho
chupou-nos para dentro, éramos
do género de não querer assim
muito movimento nas nossas vidas
e por isso tem sido um pouco, não
sei que palavra hei-de escolher, um
pouco aborrecido termos sido obrigados
a mover-nos no meio da sua espiral.
Caiu de cinco metros a semente
alada, quando olhei saía-lhe
de dentro um veneno arroxeado.


  Pereira, Helder Moura. Golpe de Teatro. Porto: Assírio & Alvim, 2016,  p 54.
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segunda-feira, 19 de junho de 2017

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No próximo dia 24 (sábado), pelas 18:00H
Victor Oliveira Mateus, Luís Filipe Pereira e Virgínia do Carmo
falarão da nova edição do livro Vasos Comunicantes (Poética Edições).
obra da autoria de António Ramos Rosa e de Gisela Ramos Rosa.
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Local: Sociedade Guilherme Cossoul
Avª D. Carlos I, 61 - 1º, 1200-647 Lisboa
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domingo, 18 de junho de 2017


Escuta:
este é o som falível
das minhas asas,
partindo-se.

Aí mesmo,
onde se tocam,
bem ao de leve,
abrigos e remorsos,
somos levados a aprender
como se emendam conjecturas,
i.e., arquitecturas movediças.

E, porque ainda me resta
a sabedoria dos ausentes,
decido voltar ao que,
afinal, sempre terei sido:
este arquipélago de sombras
em farrapos e feridas em surdina.

Transformo-me em insolente
desperdício de quimeras,
em jeito de banal esboço,
desenhado a contrapelo.

Não conheço melhor
destino do que este:
ser vagabunda bússola,
ansiando o imortal ardor
de murmúrio nenhum.


 Soeiro, Ricardo Gil. A Rosa de Paracelso. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2017, pp 57-58.
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sábado, 17 de junho de 2017


O compromisso é para com
esta minha língua de fogo.

Sabes,
bastaria uma palavra.

E não é que,
sem que nada
o fizesse prever,
dás sinal de vida?

Dizes que estás quase a partir,
pois tudo é prece descabida,
apenas tendo tempo
para alegações finais.

Em minha defesa
direi apenas isto:
pretexto injusto
seria acusares-me
de não saber amar
convenientemente
o mais impuro dos dons:
pluma/solitária/perdida.

Com proveito discutível,
seria esta uma desmedida
declaração de abertura.

Mas que sei eu de compassos
e destes desacertos sincopados?

De elipse em elipse,
a queda é a cadência mais fiel.


   Soeiro, Ricardo Gil. A Rosa de Paracelso. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2017, p 17.
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sexta-feira, 16 de junho de 2017



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Memória e saudade:

um clip que acabo de descobrir no Youtube: no dia 11 de setembro de 2009, um grupo de amigos reunia-se no piso superior - o do bar - da então Livraria Trama, para falar do novo livro de Rui Costa, "As limitações do amor são infinitas". Aqui estão o Fernando Esteves Pinto, a Inês Ramos... e eu, sempre contestando a questão das vanguardas, sentado lá para trás. Só agora percebi : o Rui Costa respondendo ao Fernando Esteves Pinto, baixinho e já perto do final do vídeo: "Se não leste o Victor Oliveira Mateus, podias ter lido." Não conhecia nada disto! O Rui Costa viria a suicidar-se três anos depois (em 2012), nas águas do Douro. Lembro esta noite... com saudade!

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quinta-feira, 15 de junho de 2017


O Prof. Dr. A. P. Alencart da Universidade de Salamanca dá uma entrevista ao jornalista Borja Domínguez,
aqui:  http://salamancartvaldia.es/not/152040/alencart-poesia-anibal-nunez-trasciende-rencillas-localismos/

Nesta entrevista o Prof. Alencart fala do XX Festival Iberoamericano de Poesia, que este ano será dedicado ao poeta espanhol Aníbal Núñez (1944-1987), menciona ainda, relativamente às representações dos vários países, os autores de língua portuguesa - entre os quais eu me incluo - que estarão nos diversos eventos que integrarão este Festival Literário.
Convém acrescentar que serão lançados, nesta semana, vários livros, dos quais destaco:
a Antologia "Explicación de la derrota" com poemas do próprio Aníbal Núñez e dos poetas que participam no Festival, dedicados ao homenageado. Esta obra monumental terá a Coordenação do próprio Alencart. Pela mesma altura será apresentada uma outra Antologia (" Raíz de piedra y Letras"), esta agora dedicada à cidade de Salamanca. É uma obra bilingue, que eu tive a honra de Coordenar e de fazer a tradução de alguns poemas, acompanhado por uma preciosa equipa que engloba: Jacqueline Alencart, Pedro Sanchez Sanz, Marta López Vilar e Rogério Viana.
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quinta-feira, 1 de junho de 2017


A Feira do Livro de Lisboa é sempre uma oportunidade para fazer compras, para rever amigos, para estabelecer contactos, para debates, lançamento de livros, conversas, etc. Pois bem, no próximo dia 3 (sábado), pelas 19:00H, cabe-me a mim estar no Pavilhão da "Coisas de Ler Editora", juntamente com outros autores que têm publicado nesta Editora.
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