segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

 
     A escrita que tarda


A escrita do teu rosto já me tarda
e, embora tardia, é já abrasamento.
Sei o teu nome. Mas não sei o assombro
de te voar nos ombros e nas virilhas.

A escrita do teu rosto já demora
num corpo de páginas branquíssimas.
Estridente é a voz, esta que implora
pela luz das manhãs que te ornamentam.

Num cadeiral de sono e invernia
a escrita do teu vulto já me tarda.
Mas não desisto. Num estampido
de folhas e metal - num revolver
de brumas - reacendo o rumo
(o rubro) desta chuva
que há-de fazer crescer as tuas letras
nas páginas de mim, da minha alma.

  Sousa, João Rui de. Ardorosa súmula. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2016, p 17.
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