segunda-feira, 23 de junho de 2014





     "  Batuque  "




A negra salta e não cansa.


Entre o denso mar pálido
e a clara poeira,
a corda balança.


A negra se ergue e sorri.


Entre o leve céu pálido
e as dolentes árvores
e o tambor que vibra.


A negra se ergue e é esguia.


Dentro do batuque
e da ritmada corda
e do morto dia.


Não há segredo na boca tranquila da negra,
nem antigas e vãs perguntas que se percam,
nem místicas dúvidas ou esquecidos gestos.


Ela se ergue como uma lança, e entre o céu e a poeira
simplesmente
dança.




   Sant'Anna, Glória de. Amaranto, Poesia 1951 - 1983. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1988, p 68.
.
.