" Tombam as horas "
Tombam as horas no soalho, ecoam os minutos no ouvido
e não adormeço
Há uma noite que me chama atormentada
Um vazio que se reproduz, já biológico
neste frio, neste embarque
Tenho alguns dedos sem pinta de sangue
porque a chuva do meu pânico
é não saber quando vai parar este que bate
Congela-me, pois, num saco de plástico
ó tempo pulsado na escrita brusca
ou no estampido de um amor que se extinguiu
uma vez aceso no explodido negro
Desata-me de ti, valida o bilhete sem volta
Oblitera a minha identidade que desconhece
outra forma menos abrupta
de me soltares
Assim, os acontecimentos vão passando
com menos gravidade do que antes
O aço estala na gare
Há tanto gelo.
Lopes, Marília Miranda. Clepsydra, Antologia Poética. Lisboa: Coisas de Ler, 2014, p 140.
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