domingo, 8 de fevereiro de 2015



   Entre a gente que considerava ridículo esse género de casamento, gente que indagaria no seu próprio caso: "Que pensará o Sr. de Guermantes, que dirá Bréauté, quando eu desposar a menina de Montmorency?", entre as pessoas que alimentavam essa espécie de ideal social, teria figurado, vinte anos antes, o próprio Swann, aquele Swann que tivera tanto trabalho para ser admitido no Jockey e contara naquele tempo com um casamento brilhante que, consolidando a sua posição, acabaria por torná-lo um dos homens mais distintos de Paris. Mas as imagens que um casamento desses apresenta ao interessado têm necessidade, como todas as imagens, para não empalidecer e apagar-se completamente, de ser alimentadas do exterior. Suponhamos que o nosso mais ardente desejo é humilhar o homem que nos ofendeu. Mas, se se mudou para outras terras e nunca mais ouvimos falar dele, esse inimigo acabará por não ter a mínima importância para nós. Se perdemos de vista durante vinte anos todas as pessoas por causa de quem desejaríamos entrar para o Jockey ou para o Instituto, já não nos tentará em absoluto a perspectiva de ser membro de um ou de outro.


  Proust, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido, Vol. 2,  à sombra das raparigas em flor. Lisboa: Livros do Brasil, s/d., pp 42 - 43 ( Tradução: Mário Quintana ).
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