segunda-feira, 19 de março de 2018


                             27.


Já "caluniei" bastante o desespero
sem reconhecer nele
o coração
das algas verdes ou azuis percorrendo o esquecimento
das longas horas do ar
e da terra e do fogo: e no esquecimento
do que foi o homem
antes da vida do homem
no caldo das águas simultaneamente transparentes
e sólidas.
- Supremo e austero, este, o coração desabitado,
foi, no entanto, o único capaz de se envolver com os impulsos
próximos dos ossos das nuvens
que se nos desprenderão da carne perdendo a arrogância
do céu e dos Anjos: pois, nem mesmo
a "abertura a um amor absoluto"
o consolará do desgosto
de não ter conseguido ascender por si mesmo
à sua ressurreição.
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  Chiote, Eduarda. Fiat Lux. Porto: Edições Afrontamento, 2017, p 36.
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