domingo, 18 de maio de 2014

 
 
     Era assim que o homem que era o chefe e cheirava a colónia de pinheiro bravo achava que tudo tinha acontecido.(...) Antes de seguir para casa dera ordens para continuarem a interrogar a mulher e para não a deixarem dormir.(...)
     A cadeira em que ela estava sentada balançou. Ficaste com medo de que a miúda fosse contar ao padrasto, o cabrão do drogado não tem bom feitio, não ia gostar nada de saber que o cunhado lhe andava a comer a mulher. (...) A miúda queria fugir-vos pelas traseiras, mas vocês apanharam-na na cozinha, não foi? Aposto que nem tiveste tempo de vestir as cuecas. O homem da aliança grossa apertou com toda a força o pescoço da mulher até ela ficar com os olhos esbugalhados. Era tão mais fácil confessares, o que é que te custa, não custa nada, era um favor que fazias a todos, principalmente a ti, que nós temos tempo, falta-nos é paciência, vá lá, confessa, a miúda entrou e apanhou-te a foder com o teu irmão. (...). O homem da fivela com uma caveira deu um pontapé na barriga da mulher. A mulher dobrou-se e ele deu-lhe uma joelhada. A cabeça da mulher fez um barulho esquisito ao bater de encontro ao chão. Como se alguma coisa se tivesse partido lá dentro. Foi então que a mulher começou a falar.
 
 
  Cardoso, Dulce Maria. tudo são histórias de amor. Lisboa: Edições tinta-da-china, 2014, pp 104 - 105.
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