sábado, 10 de maio de 2014

 
 
   Não apresento qualquer desculpa por repetir que Gaia é um sistema evolucionário, em que qualquer espécie, incluindo os seres humanos, que persista em provocar mudanças de ambiente que reduzam a sobrevivência da sua descendência, está condenada à extinção. Ao utilzarmos maciçamente a terra para alimentar pessoas, e ao poluirmos o ar e a água, estamos a dificultar a capacidade de Gaia em regular o clima e a química da Terra, e, se continuarmos a fazê-lo, ficaremos em risco de extinção. Num certo sentido, envolvemo-nos numa guerra com Gaia, uma guerra que não temos qualquer esperança de ganhar. Tudo o que poderemos fazer é estabelecer a paz enquanto formos ainda fortes e não uma multidão enfraquecida.
   Como alguém que se considerava a si mesmo um Verde, fiquei alarmado com as provas recentes do prejuízo causado pelos pesticidas agrícolas. No local onde eu vivia, em Wiltshire, toda a terra em volta estava a ser esterilizada por empresários agrícolas jovens e entusiastas. Desaparecendo rapidamente estava a rica e diversificada paisagem de pequenos prados e sebes; a substituí-la surgiam campos enormes de monocultura de cevada e de colza, e todos eles estavam agora vedados com arame farpado. (...) Em dez curtos anos tudo mudou; as quintas passaram a ser trabalhadas por mão-de-obra contratada, trazida de fora, o preço da habitação aumentara muito além da capacidade de os aldeãos em poderem pagá-a, e a própria aldeia transformou-se numa colónia urbana, periférica, habitada  pela rica classe média. Esta dessacralização da paisagem rural, que está a ocorrer em todo o sul e no leste da Inglaterra, passou quase despercebida e foram poucos os que lamentaram a perda da biodiversidade e das comunidades das aldeias. (...) Os que sofreram foram as aves, os animais e as plantas silvestres do campo; os campos com sebes antigas, cheios de cor na Primavera e ressoando com os cantos das aves, eram agora uma extensão vazia de cereal de monocultura.
 
 
   Lovelock, James. A Vingança de Gaia. Lisboa: Gradiva, 2007, pp 158 - 159.
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