terça-feira, 9 de dezembro de 2014



                                " Place des Vosges "


Futuro era o de antes, o do tempo dos meus quinze anos. Todas as noites gasto as solas dos meus sapatos caminhando até a praça Matriz, e me sento a esperar o futuro. Venha, compre amendoins com chocolate e sente-se. As mulheres que fumam já me conhecem. Eu não, ainda não me conheço. E também não olho para ninguém, nem para nada. Como amendoins com chocolate. Espera alguém? Sim, o futuro. Respiro fundo, sentado do lado da Catedral, de costas à rua Sarandi. Todas as noites, sou assíduo e pontual. Sei que quando o futuro aparecer, virá voando por trás do Cabido. Uma rajada, e eu o agarrarei em meus pulmões e me levará leve como num globo, longe da praça. A noite está fresca, choveu à tarde. E hoje, chegou? Não, deve estar atrasado, vem de muito antes. Os amendoins com chocolate me pesam como uma pedra. E eu olho para os meus sapatos, desamparados.



 Fressia, Alfredo. Antologia Poética, É que os hussardos chegam hoje. São Paulo: Editora Patuá, 2014, p 9.
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