sábado, 16 de junho de 2018
A Meio caminho
Quando à noite insomne saboreio
o amargor mortal dos meus limites,
por mim todo se estende o receio
do destino que sem eu saber me dites.
Aonde eu via meus dias já em meio
da estrada possível? Que me fites
vendo eu só que me vês; que em cheio
me toques de presença; que me grites
um eco mais fundo mais fundo de mim?
E eu não te saiba senão presença nua
sem figura, sem palavra, sem fim;
é como se eu fosse um cão lançado à rua
e sentisses saudades de um jardim
onde houvesse um rosto a amar ao sol e à lua!
Enes, José. Obra Poética. Ponta Delgada: Letras Lavadas edições, 2018, p 90.
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