quarta-feira, 13 de junho de 2018
Pastagem com homens dentro
Os pastores são os depositários plenos dos planos de viagem,
adormecem a dor medem amarrados à estaca entre a erva e o esterco.
Eles abrem a manhã no estertor dos guizos
e dos chocalhos essa a única música a rasgar o deserto
de bosta que desce até ao mar mastigam com dentes de fome
a fome que cresce nas pastagens besuntam-se na humidade
que se desprende dos pastos e das palavras empestadas
e empastadas de mágoa e névoa: por elas
ou dentro delas se desemboca nas docas e canarias de San Diego
nos estaleiros navais de San Diego dentro delas o corpo
se depreda nos prados da Califórnia.
Com navalhas por dentro e navios nos olhos eles assinam
assim o ponto no dorso da ilha e cavalgam as aves as nuvens
com elas fogem para oeste à frente da fome e do frio. Deste modo
pervertem as distâncias e investem os sonhos amealhados
no desespero de causa com que se espetam nas cabras
e nos cabritos.
Bettencourt, Urbano. outros nomes outras guerras. Lajes do Pico: Companhia das Ilhas, 2013, p 12.
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