domingo, 17 de junho de 2018
Voltaste
Vejo, Senhor, que não me abandonaste.
Tenho vivido distraído e alheio
como um helianto a descair da haste,
mesmo quando sopeso o cálix cheio.
Oh! vida impessoal e sem diálogo,
chupando o fumo à trela com qualquer,
mirando as coisas como num catálogo
na saga dum perfume de mulher.
Mas hoje de novo à porta me bateste.
Há brasas sob as cinzas da fogueira
à espera da chama que acendeste
e eu por medo e cómodo apaguei.
Não sou o que viste a vez primeira.
Dar-me-ás de novo teu amor de Rei?
Enes, José. Obra Poética. Ponta Delgada: Letras Lavadas edições, 2018, p 137.
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