segunda-feira, 22 de junho de 2015


  Odon Vallet (Paris, 1947 -      ) publica, em 1995 na Albin Michel, a sua visão de "o assunto Óscar Wilde". Licenciado em Ciência Política e com dois doutoramentos: um em Direito e outro em Ciência das Religiões, a sua abordagem deste assunto afasta-se das tradicionais histórias do desgraçadinho, do perverso e/ou do génio incompreendido. Vallet disseca o tema partindo de três traves mestras: o contexto jurídico e político, a questão moral e religiosa e os aspetos psicológicos de todos os intervenientes. No primeiro aspeto, Vallet clarifica o facto de Wilde ter sido apanhado nas malhas de uma lei, aprovada até pela esquerda parlamentar, mas cujo objetivo inicial era bem distinto e de ter sido apanhado igualmente pela embaraçosa relação do então Primeiro Ministro, Lord Rosebery, com o irmão mais velho de Lord Alfred. O ódio do 10º Marquês de Queensbury relativamente a certos comportamentos estava, pois, mais do que justificado e era até conhecido de Wilde, que, mesmo assim se pôs a jeito, avançando com uma ação criminal por difamação contra Queensbury. As semelhanças e as diferenças quanto aos ideais de masculinidade entre Wilde e o seu rival, são neste livro analisadas com minúcia: Queensbury, prezando pouco as mulheres (???), usava-as... espancava mesmo a própria marquesa, que, por fim, teve de se afastar dele, ele preferia gastar todo o seu dinheiro com prostitutas e com os seus lutadores de boxe (???), um dos quais acompanhava-o sempre, até nas suas dispendiosas viagens ao estrangeiro, portanto, mesmo sabendo que estava perante uma masculinidade perturbada e homofóbica, mesmo assim Wilde nunca deixa de se pôr a jeito para o que lhe viria a acontecer. Para além de tudo isto, Vallet clarifica ainda os aspetos provenientes de raízes religiosas distintas: um Wilde vindo de uma Irlanda católica e um Queensbury rigidamente protestante.
  Este livro apresenta ainda um suporte documental bastante interessante.
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