quinta-feira, 4 de setembro de 2014



                          " 164. "


de uma folha faz a árvore de uma gota um rio. com um
grão de areia enche o deserto. e esta sua forma de falar
no poema sempre longe das evidências que são mera
narração e tão próximas do enigma e do símbolo. que
podem ser lidas com mil olhares.


dizia o nevoeiro para o sol que já era sombra no
mais doloroso eclipse entre as brumas do espanto e a
consagração do milagre da ausência. dizia o rigor da
pedra para o ouro do ventre da palavra fulminante. dizia.
quem de domínios não usava para usar a humanidade
mais pura. há sempre um momento de falas que cala e
reduz a estrada dos astros. o espaço é um perfume e a
alma um recanto a que se chega de joelhos. de uma folha
se faz a foice. também.


  Ferreira. Isabel Mendes. O tempo é renda. S/c.: labirinto de letras editores, 2014, p 111.
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