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Há um carril de ferro interno
Numa carta hebraica que arde
À boca de uma urna os sinos tocam a finados interminavelmente
Levam à morte todos os caminhos
Que uma mão pesada escreveu num mapa
Sem paz vêm do fundo dos sinos os sons do desespero
Que dor inconsolável
Todos os dias a saldar a dívida ética sem amortização
Quantos fios do talih têm de ser cerzidos nos tribunais!
O futuro é um campo de ruínas
As ruínas são campos sem almas
Cemitérios que excedem a terra
Num excesso de malevolência carbonizaram as pétalas de rosa
Que Etty Hillesum trazia ao peito numa grinalda
As portas dos fornos que se abrem e fecham
Sâo o campo magnético deslocado do centro da terra
Para os campos de extermínio
Que atraíam a si pais e filhos e irmãos e cunhadas
Vede a administração de um destino maquinado ao pormenor
Nem um único dente escapou fora de uma boca
Repousam sobre as lajes
Sob o céu
As mães que não tiveram repouso
Repousam nos campos
Dos para sempre nunca absolvidos
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Aguiar, Isabel. Requiem por Auschwitz. S/c.: Editora Licorne, 2014, pp 28 - 29.
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