quinta-feira, 9 de abril de 2015

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                 "  das almas...  "

                  
                                      para Victor Oliveira Mateus


os poetas não dormem
olham para o mundo da noite
sonham ver a sombra do destino
os poetas morrem novos porque não dormem à noite
também há os que morrem muito velhos
para vigiarem todas as noites
que o mundo lhes entregou
de todas ainda sobram muitas...

os poetas cansados à noite choram
pelos que nascem na madrugada
oram em palavras escondidas
quando o espírito parece adormecer...

os poetas não sabem escrever
imploram o afastamento da dor
abandonados de tranquilidade
tentam resistir à agonia...

os poetas não são seres
são gente que se move nos astros
moribundos que pedem sono
almas acordadas que esperam
beijos de amor...

os poetas são folhas pequeninas
que tombam na manhã...
caem para a terra fecundar
num gesto que permanece
nos passos silenciosos dos outros
(folhas imensas que não tombam)

os poetas não sabem ler
soletram e as letras formam palavras
solidificadas que rasgam os corações
daqueles que não dormem à noite...

os poetas cansam as palavras
também elas não dormem à noite
permanecendo intrigadas
à espera que os poetas adormeçam
nos sonhos dos beijos por chegar


  Levy, Henrique. O Silêncio das Almas. Macau: CriarInovar, 2015, pp 37 - 38.
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