Nota-
O poema “A un Papa”, de que segue aqui um excerto, é um ataque violento do
Cristianismo de Pasolini ao Cristianismo do polémico Pio XII. O texto integra o
livro “La Religione del mio tempo”, dedicado a Elsa Morante.
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um
montão de construções miseráveis, pocilgas e não casas,
bastava apenas um gesto teu, uma palavra,
para
que aqueles teus filhos tivessem uma casa:
tu não fizeste um único gesto, não disseste
uma só palavra.
Nem
sequer precisavas de pedir que se absolvesse Marx! Uma vaga
imensa que se abatia sobre milenares modos
de vida
separava-te
dele, da sua religião:
e na tua religião não se fala já de piedade?
Milhares
de homens, sob o teu pontificado,
mesmo frente aos teus olhos, viveram entre
imundície e pocilgas.
Tu
sabia-lo, pecar não significa fazer o mal:
recusar fazer o bem, isso é que é pecar.
Ah,
quanto bem tu poderias ter feito! E, no entanto, não o fizeste:
jamais houve pecador tão grande como tu.
Pasolini, Pier Paolo. Poésies 1953 – 1964 . Paris: Gallimard, 2014, p 174 (Tradução minha
a partir do italiano).