Quando o filme termina, Rebecca vai à cozinha buscar a sobremesa. Peter e Mizzy estão sentados lado a lado no sofá. Mizzy envolve com um braço os ombros de Peter, num gesto de camaradagem.
- Ei - diz ele.
- Adoro este filme - diz Peter.
- Adoras-me a mim?
- Chiu.
- Então acena só com a cabeça.
Peter hesita e faz um aceno afirmativo.
Mizzy sussurra:
- És lindo meu.(...)
- Não me trates por meu - diz Peter baixinho.
- Está bem, és só lindo.
(...)
- Então inventaste aquilo tudo? A história de...
Não chores, imbecil. Não chores num Starbucks à frente deste rapaz sem coração.
- Oh, não - diz Mizzy. - Sempre tive um fraquinho por ti, não ia mentir acerca disso. Mas, calma aí. És o marido da minha irmã. (...)
Queres apenas que eu impeça que as tuas irmãs te chateiem por causa das drogas. Tinhas de arranjar qualquer coisa contra mim, como garantia. (...)
- Prometeste que não contavas à Rebecca.
- Se prometeres que te despedes dela antes de ires.
(...) Um momento mais tarde. Uta aparece.
- Que se passa, Peter?
- Nada.
- Vá lá.
Conta-lhe. Conta a alguém.
E ele diz:
_ Acho que me apaixonei pelo irmão mais novo da minha mulher.
Uta tem muito experiência na arte de se fingir pouco surpreendida.
- Aquele miúdo? - pergunta.
- É muito patético?- pergunta ele. - É muito estúpido, triste e patético?(...)
- Estás a dizer que és homossexual?
- Não sei (...) Não aconteceu nada. Só um beijo.
- Um beijo é qualquer coisa (...) Sempre foste um apaixonado pela beleza em si. É uma coisa gira que tu tens.
Cunningham, Michael. Ao cair da noite. Lisboa: Gradiva, 2012, pp 258 - 288.
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