sábado, 19 de maio de 2018


      A mão no escuro

               1


Amargo ser este meu nome
de outros nomes ferido,
amargo este meu ser
         de corpo e dilemas.
Pois evadido de mim, fora de ti
nem aqui nem onde havia infância
desabitado
visito as ruínas mitológicas
eu que não passo de ruínas
e te asseguro:
nenhum passado conta minha história.

Do que fui ao que deixei de ser
há mil substitutos provisórios
que me negam
qualquer lugar nos mapas ou no tempo.

E no lamento das brisas, e no vapor
das máquinas
me entreponho com minhas ilusões
e gravemente me deixo devassar:
caixa de Pandora reaberta,
nucleares demônios.

E me retomo.
De onde jamais fui me retomo:
um rosto composto de migalhas,
retalhos de verdade e sentimento,
tédio no escuro: aqui recomeço.


 Pereyr, Roberval. 110 Poemas. Salvador - Bahia: Quarteto Editora, 2013, p 74.
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