terça-feira, 29 de maio de 2018

                   
                             Fernando Pessoa: Tópicos e Deambulações


 Índice:

 1.- A Tematização da Loucura

  1.1. - Obsessão da loucura
  1.2. - O problema do fingimento
  1.3. - Libertação do medo da loucura
  1.4. - O mistério do mundo
  1.5. - Loucura e heterónimos

 2. - Heterónimos e sua caracterização

  2.1. - Alberto Caeiro
  2.2. - Ricardo Reis
  2.3. - Fernando Pessoa: poesia ortónima
   2.4. - Álvaro de Campos.

  3. - Os motivos centrais nos vários autores

  4. - A criação heterónima: surgimento e processo.


1. - A tematização da loucura

   As primeiras formulações acerca da psicopatologia de profetas, santos, poetas, filósofos, etc datam já de 450 A.C., podemos encontrá-las, por exemplo, em Eurípides e Demócrito. Também Platão no Fedro diz-nos: " (...) quem quiser chegar à poesia sem o delírio das musas, pensando aprender a arte poética sem ele, estaria errado...". Segundo Séneca, Aristóteles teria dito: "(...) nenhum grande engenho sem uma parte de insânia...". No século XVII vemos Pascal comentar: "L'extrême esprit est voisin de l'extrême folie" e, mais tarde, Diderot avançaria: "Hélas! que le génie et la folie se touchent donc de près!"
   Ora, em 1863 publica-se a 1ª Edição da obra de Cesare Lombroso "Genio e Follia", que se logo se transforma em fundamento das investigações sobre a genialidade; a sua tese é: Todos os Génios são de qualquer forma Loucos ou Degenerados Este psiquiatra italiano chega ao ponto de dizer que especialmente favorável para a produção artística seria uma boa psicose, pois reduz fortemente a Razão e liberta a Fantasia, assim teríamos:

O génio psicótico caracterizado por: desassossego interior, contradições internas, consciência exagerada do valor próprio, energia enfermiça, originalidade.

   A discussão em torno das teses de Lombroso estende-se pelos últimos decénios do século XIX até 1910. Quando Fernando Pessoa volta, em 1905, a Lisboa, com 17 anos de idade, deve ter conhecido esta discussão, pois numa carta a Cortes-Rodrigues acusa a influência de um dos adversários de Lombroso, o psiquiatra austríaco Max Nordau, embora tudo indique que a leitura de Nordau teria sido já numa fase final. Diga-se que Fernando Pessoa sabia-se altamente dotado, senão mesmo genial, we notou na sua personalidade todas as particularidades inquietantes mencionadas por Lombroso como típicas do génio, incluindo certas características de degneração como por exemplo a falta de vontade.

  1.1. - Obsessão da loucura

   Alexander Search, o primeiro heterónimo de Fernando Pessoa (ou antes pseudónimo?) começa a sua atividade em 1903 e estende-se até 1909 e aí a obessão da loucura manifesta-se particularmente em 1907 e 1908. Entre as suas 115 poesias vemos que o jovem poeta estava profundamente obcecado pelo medo da loucura. Veja-se um artigo datado de 30/10/1908 de Páginas íntimas e de auto-interpretaçaão : "Uma das minhas complicações mentais - mais horrível do que as palavras podem exprimir - é o medo da loucura, o qual, em si, já é loucura." Notamos aqui a marca de uma mentalidade fim-de-século, influenciada pelos poetas decadentes, entre os quais o francês Rollinat. Alexander Search lamenta então os males característicos desse fim-de-século:
a) predominância da inteligência sobre a vontade
b) incapacidade de agor
c) isolamento extremo dentro da sociedade
d) sofrimento pelas complicações do próprio caráter.

  1.2. - O problema do fingimento

   O amigo com o qual Alexander Search dialoga levanta nele o problema do fingimento, acusando-o de escrever de maneira fingida, censura que antecipa o poema Autopsicografia : o amigo considera as lamentações do poeta como fictícias e inautênticas, mas Search explica o deprimente da sua produção pela sua loucura, ou seja, pela consciência da sua loucura.
   O problema da loucura anda, pois, a par com a questão da readaptação de Fernando Pessoa depois do seu regresso da África do Sul. Eis o excerto de um poema de 1907:

Nunca senti tão fundo o que da humanidade me exclui e afasta
...   ...   ...
Nunca senti tão fundo o abismo entre os homens e mim.
É idiotia, loucura ou crime, ou génio - ou quê, esta dor sem fim?
...   ...   ...
Canção toda mistério, símbolos, contradições em ignóbil dança,
Mas não se ignore em nada que isto é loucura sem esperança


   O medo de perder a razão foi, portanto, muito forte no jovem Fernando Pessoa, veja-se uma quadra de um soneto de 28/3/1909:

Com severos passos arrastados, como o ódio rastejante,
Atrás do negro silêncio do meu cérebro consciente,
Ouço a loucura avançando, e sinto com dor
A terra que ela calca torcer-se e palpitar

   1.3. - Libertação do medo da loucura

   Por volta de 1910 deve ter havido uma libertação destas obsessões, como ele diz numa carta a Cortes-Rodriges: "varrido do espírito pela leitura de Max Nordau e pela ginástica sueca". Para Nordau, o génio deixa de ser esse degenerado-motor-da-humanidade como Lombroso defendia e passa a ser algo de saudável: os modernos, esses sim são degenerados, por isso são tudo menos génios e as suas obras condenáveis. Fernando Pessoa reage, por conseguinte, à mentalidade fim-de-século e o resultado desse esforço são os Heterónimos , após a criação destes o poeta passa a definir-se como histero-neurasténico, contudo, a loucura enquanto tema ir-se-á manter.

  1.4. - O mistério do mundo

   O horror perante o mistério do Todo é o tema número um da peça Fausto de Fernando Pessoa:

O sentido do mistério do todo,
Quando fulgura em mim em cheio quanto pode ser,
Aterra a minh'alma enlouquecida

   Este Fausto não é mais do que a luta entre a Inteligência e a Vida, a primeira é representada por Fausto, a segunda conforme as circunstâncias. Toda a peça é atravessada por vocábulos como: vácuo, frieza, gelar, horror, pavor. Nesta peça, como já sucedia em Search, há a separação entre os felizes, ou seja, os homens normais, e o génio, aqui personificado pelo próprio Fausto, e o tema da loucura surge como consequência do encontro com a realidade e ligada aos grandes representantes da humanidade. Por conseguinte, a loucura passa agora a ser (aqui) valorizada positivamente, como fonte de empreendimentos sobre-humanos.

   1.5. - Loucura e heterónimos

   Álvaro de Campos, mestre do sensacionismo, trata o tema da loucura de forma exibicionista: na ode Passagem das horas (1916) a fúria de "sentir tudo de todas as maneiras" confina com os limites dessa mesma loucura, e Campos passa mesmo a brincar com ela. Vemos, portanto, que estamos já bem distantes das preocupações de Search!:

Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exatamente na cabeça


A loucura, como vemos, é aqui saudada alegremente e consola-o da náusea frente aos seus empreendimentos.
    Também Fernando Pessoa, ele-mesmo, na Mensagem, apresenta os heróis como exemplo dessa loucura virada para o futuro:

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
...   ...   ...   ...
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

2. - Heterónimos e sua caracterização

2.1. - Alberto Caeiro

poeta e pensador que, teoricamente, em poesia se desdobra, vive de impressões visuais e em cada uma goza o seu conteúdo original, logo, há sempre em Caeiro uma sobrevalorização da diferença:

E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes tinha visto

Ele não quer saber da realidade dos números e não quer saber de passado nem de futuro: recordar é atraiçoar a natureza. É um poeta do real objetivo e os seus pensamentos são só sensações. Vive feliz como os rios e as plantas. O seu misticismo leva-o a desejar dispersar-se e transformar-se num rebanho:

Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo.

Caeiro é um lírico espontâneo, instintivo e inculto. O seu vocabulário é pobre, predominantemente obstrato, incolor, discursivo, mas o pensador suplanta o poeta, veja-se a questão do Nominalismo :

Um renque de árvores lá longe, lá longe para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são coisas, são nomes.

Concluímos, portanto, que Alberto Caeiro não é o pensador ingénuo que Fernando Pessoa e Álvaro de Campos tanto apregoam.

2.2. - Ricardo Reis

é monárquico, educado num colégio de jesuítas, latinista e semi-helenista, amante do exato. Como Caeiro, aconselha a aceitar a ordem das coisas e são ambos indiferentes ao social, convencidos de que a sabedoria está em gozar a vida pensando o menos possível. Enquanto Caeiro defende uma verdade absoluta que é o primado do exterior, a variedade do real, Reis tenta conquistar o prazer relativo e, sempre triste por saber que o é, apenas lhe resta iludir a dor com tintas de estoicismo (Horácio é o seu autor de cabeceira!), Reis acaba por nos propor, portanto, uma orientação epicurista, um duror esforço de auto-disciplina, a submissão a um destino involuntário.

2.3. - Fernando Pessoa

Ao contrário de Caeiro e Reis, Pessoa não tem uma filosofia prática, nele há só a expressão musical do frio, do tédio e dos anseios da alma; sofre a vida, sendo incapaz de a viver; oscila entre o ocultismo e o "tudo é sonho e aparência". Nesta poesia ortónima poder-se-ão encontrar duas vertentes: a modernista (1913-1917) com acentos de simbolismo, de interseccionismo impressionista, de paulismo e a segunda vertente que será a maneira típica do próprio Pessoa - exemplo: O sino da minha aldeia. aqui temos poemas, quase todos em verso curto, com a finura dos motivos e a descrição clássica daqueles recursos que são característicos de toda a poesia ortónima.

2.4. - Álvaro de Campos

Poeta sensacionista e por vezes escandaloso é dos três heterónimos aquele que msi percorre uma curva evolutiva: 1º Opiário, fase da decadência; 2º Futurismo Whitmaniano, amor ao ar livre e ao belo feroz que condena a literatura decadente; 3º Pessoal, é o pota do cansaço, nauseado, da abulia, do vazio, inquieto.

3. - Os motivos centrais nos vários autores

a) "Tudo é ilusão":
Fernando Pessoa . frente ao mundo: é absurdo, não pode ser!
Alberto Cairo: o mundo fenoménico apresenta-se também como estranho, nada há por detrás dele a dar-lhe sentido;
Álvaro de Campos: tenta fugir pela vertigem das sensações.

b) "Ser e conhecer-se":
Alberto Caeiro: goza a mudança das coisas;
Fernando Pessoa: recordar não é reviver, mas verificar com dor que fomos outra coisa impossível de recuperar;
Álvaro de Campos: somos só o que queríamos ser, ou antes, o intervalo entre o que queríamos e o que realmente somos;

c) "A dor de pensar"

d) "Os momentos inefáveis":
Em Alberto Caeiro, o seu positivismo não evita o regresso das vozes misteriosas, enquanto Fernando Pessoa se lamenta por não ser calmo como o mestre, porque assim tem sempre a preocupação de sonhos e memórias.

e) "Melancolia e Destino"

f)
Fernando Pessoa:
- Aristocratismo:
"E a glória do meu Rei (Deus) dá-me o desdém
Por este humano povo entre quem lido..."

- Beleza:
"Se em mim houvesse certeza
Não seria o fluido neutro
Que ama a beleza"

- Cansaço

- Corpo:
"O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo"

- Cultura:
"Livros são papeis pintados com tinta"

- Divindade (Pessoa é sempre manipulado por um Deus oculto)

- Felicidade: é sempre do outro

- Mistério:
"Grandes mistérios habitam
o limiar do meu ser"

- Pensamento/Sensibilidade:
"Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando?"

ou:

"Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente está pensando"

ou ainda:

"Que importa se sentir
É não se conhecer?"

- Ser e Nada:
"Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser"

g)
Alberto Caeiro
- Aristocratismo:
"Ontem à tarde um homem das cidades/(...)/ Falava da justiça e da luta para haver justiça" etc., etc.

- Beleza:
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia" (Mas o ria da aldeia acaba sendo mais livre, porque não faz pensar em nada!)

- Corpo:
"Que perfeito que é nele o que ele é - o seu corpo,"
...
"Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que da existência interior do dono casa branca
Creio mais no meu corpo do que na minha alma"

- Divindade:
"Não acredito em Deus porque nunca o vi"

- Felicidade:
"Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se"

ou:

"Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros"

- Filosofia:
"Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... "

- Mistério:
"O único mistério é haver quem pense no mistério"

ou:

"Os poetas místicos são filósofos doentes
E os filósofos são homens doidos"

- Pensamento/Sensibilidade:
"Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender..."

- Ser e parecer:
" O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?"

h)
Álvaro de Campos

-Aristocratismo:
"Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importa-me com a humanidade!"

-Beleza:
"Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações"

ou:

"Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime
Ser completo como uma máquina"

-Corpo:
"E todo o nossos corpo angustiado sente,
Como se fosse a nossa alma"

Felicidade: sempre ligada ao outro (também).

Imaginação: é muito importante em Álvaro de Campos!

-Metafísica:
"Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos"

-Mistério:
"Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?"

ou:

"Ah, perante esta única realidade, que é o mistério,
Perante esta única realidade terrível - a de haver uma realidade"

-A noite (como veículo de universalização e indiferenciação):
"funde num campo teu todos os campos que vejo"

ou:

"Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito"

-Pensamento/Sensibilidade:
"O cansaço de pensar
faz-me velho..."

ou:

"(...) mais vale ser criança que querer compreender o mundo"

-Ser e Perecer:
"Quem era? Ora, quem eu via"

- Sociedade (organizada):
"Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida"

ou:

"Deixai-me tirar a gravata e desabotoar o colarinho.
Não se pode ter muita energia com a civilização à roda do pescoço"

i)
Ricardo Reis
- Beleza:
"pela calma das flores deixadas num colo, num momento suave".
É externa e dada:
"(...) repetida
Em meus passivos olhos,
Lagos que a morte seca."
Ainda a calma e viver a vida num só minuto:
"senta-te ao sol. Abdica.
E sê rei de ti próprio."

- Destino:
"Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável"

- Divindades:
Cristo é tão-só um deus a mais
Não moram no Vago, mas nos campos e rios
São deuses que não se pensam a si próprios
Veem, no entanto, mais claro o que as coisas são
Talvez só por serem maiores que nós tirem o seu serem deuses

- Felicidade:
"Felizes, cujos corpos sob as árvores
Jazem no húmida terra,
Que nunca mais sofrem o sol, ou sabem
Das doenças da lua".

- Filosofia:
Sobrevalorização de Epicuro em detrimento de Aristóteles (pp 28, 29, 62 na Edição da Ática)

- Imaginação:
"Nada se sabe, tudo se imagina"

- O Outro:
É pura e simplesmente ignorado - exº: o poema dos jogadores de xadrezz "Quando o rei de marfim está em perigo,
Que importa carne e osso
Das irmãs e das mães e das crianças?

- Pensamento/ Sensibilidade:
"(...) não pensemos
E deixemo-nos crer"

- Verdade e Ciência:
"Acima da verdade estão os deuses"
e:
"A ciência nunca encontra.
E a vida passa e dói porque o conhece..."

4. - A criação heterónima

Pessoa não é explícito quanto ao nascimento dos heterónimos:
primeiro, garante que é como médium que escreve sob o nome de Caeiro, Reis e Campo; contudo, garante por vezes o que há de artificioso e calculado nesta criação. Parece que a tendência para fingir lhe vieram bastante cedo, já com seis anos escrevia cartas a si mesmo sob o nome de Chevalier de Pas. Aso 24 anos surgiu-lhe a ideia de escrever poesia pagã (Ricardo Reis estava já em embrião!), ano e meio depois inventa um poeta bucólico (Alberto Caeiro) para pregar uma partida a Sá-Carneiro e, depois de vários dias sem o conseguir, no dia em que escreve a Ode Triunfal, abeira-se de uma cómoda alta e num pseudo-êxtase  escreve de um jacto trinta e tantos poemas de Guardador de Rebanhos e logo a seguir tenta descobrir-lhe, conscientemente, os discípulos e é aqui que surge a Ode Triunfal sem uma única emenda. Ricardo Reis surge com a necessidade de criar uma oposição a Álvaro de Campos. Fernando Pessoa tenta sublinhar o carácter involuntário desta criação, mas uma vez nascidos ele tenta arranjar-lhes biografias, o que parece ontradizer que esta génese foi alheia ao arbítrio de Pessoa. Conclusão: Pessoa simulou o forjar dos heterónimos e simulou-o ironicamente na carta a Casais Monteiro. A questão põe-se de novo: desdobramento ou invenção de personalidades?
Várias vezes procurou convencer-nos, e talvez a ele próprio, de que era possível fazer poesia de fora para dentro, pondo a sensibilidade como trem de corda ao serviço da inteligência, mas, não teria havido uma colaboração consciente - e do subconsciente - sabiamente trabalhada pela inteligência? Fernando Pessoa acusa, portanto, duas explicações - contraditórias entre si - para o nascimento dos heterónimos: fatalismo e voluntarismo. Mas a despersonalização das criações heterónimas foi muito relativa, pois há um estrato de sinceridade dramática, não menos sincera só porque Pessoa lhe chama fingida, e uma camada mais superficial de autêntico fingimento. Os heterónimos seriam assim, tentativas de resposta prática, embora que imaginária, ao grave problema do existir: um ser dorido e desterrado num mundo imaginário - o seu drama é o impiedoso conflito entre a intuição do mistério e o impiedosos racionalismo. Quando por esse racionalismo o poeta se reencontra, do outro lado o eu é fluido, uma consciência virada para o exterior, ilusoriamente firme que passa, como tudo. Ei-lo em vão tentando desvendar o Mistério do Além, mas entregue apenas a esse tédio de vida que caracteriza os que penetram demasiado nas raízes abstratas das coisas.
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