sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


 
   Os nossos cérebros humanos também nos permitem sentir intensamente. Para falar com franqueza, há muito que penso que a natureza exagerou no que toca às emoções humanas. Nós "sentimos" demasiado. Agora sei porquê. A amígdala humana, uma região em forma de amêndoa na parte lateral da cabeça, por baixo do córtex, tem mais do dobro do tamanho da amígdala dos macacos. Esta região cerebral desempenha um papel essencial na produção do medo, ira, aversão e agressividade; algumas partes também produzem prazer. Com esta capacidade cerebral de gerar emoções fortes, por vezes violentas, nós, humanos, temos a capacidade de ligar o nosso impulso para amar a uma vasta colecção de sentimentos.
   Também somos dotados, com exclusividade, de meios para nos lembrarmos "dele" ou "dela". (...) Porém, para nos ajudar a recordar, a natureza cogitou fazer o nosso hipocampo, a região do cérebro que usamos para produzir e armazenar lembranças, quase com o dobro do tamanho do dos grandes macacos. Esta região do cérebro evoca também de modo admirável os sentimentos que acompanham as lembranças. Com esta excelente fábrica e caixa de armazenagem - o hipocampo - nós, humanos, somos capazes de evocar o mais minúsculo pormenor a respeito "dele" ou "dela".
   Mas de todas as partes do cérebro que evoluíram para tornar mais intensa a experiência do amor romântico, a mais importante é sem dúvida o núcleo caudado humano. Esta região cerebral está associada à atenção focalizada e à intensa motivação para ganhar recompensas.
(...) Um dia poderemos elevar-nos completamente da Terra e subir em direcção às estrelas. Estes viajantes levarão nas suas cabeças maquinaria mental requintada, nascida no capim da África antiga há mais de um milhão de anos. Entre esses talentos especiais estarão a nossa inteligência, a nossa aptidão para a poesia, as artes e o drama, um espírito benigno e muitas outras características do cortejamento, incluindo a espantosa capacidade humana de se apaixonar perdidamente.
(...) Como sabem, o amor romântico não anda necessariamente de mãos dadas com o anseio de nos ligarmos a um perceiro de acasalamento durante um período de tempo longo. Podemos apaixonar-nos por alguém com um modo de vida diferente, com quem nunca nos vamos querer casar. E podemos sentir paixão romântica por uma pessoa enquanto nos sentimos profundamente ligados a outra, normalmente um cônjuge. (...) Que loucura - estar social ou sexualmente ligado a uma pessoa e desvairadamente apaixonado por outra.
  Porque é que os circuitos cerebrais do amor romântico se desligaram dos sentimentos de luxúria e de ligação a longo prazo? (...) Isto é, os volúveis circuitos cerebrais para o amor romântico são caprichosos por desígnio da natureza.
(...) Os namoradeiros americanos até têm filhos com os seus parceiros clandestinos. Num programa de 1998 para detectar doenças genéticas, os cientistas ficaram espantados ao verificar que 10%  das crianças submetidas a testes não eram prole dos seus pais legais. (...)
   Nós fomos feitos para amar e voltar a amar.(...) Que confusão e que mágoa essa química pode provocar, quando estamos casados com alguém que admiramos e nos apaixonamos por outra pessoa. (...) Mas essa rede de circuitos cerebrais gerou uma tremenda desordem nos dias de hoje, contribuindo para os nossos padrões mundiais de adultério e divórcio...
 
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D'Água, 2008, pp 150 - 152.
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