sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014



Sento-me paro e aqui volto
depois de ter ficado mais um pouco
retomo o fio prateado o jogo de contas
sábia carícia entre mãos
ao balcão com a cerveja a gordura de todos
e o outro mostra as palavras que tem e não tem
e trago-te o mesmo repouso no escuro
a silhueta enfurecida
tombando ainda mais um bocado
não tarda pelas ruas o ruir dos passos
empurrado pelo jugo doméstico
que vem da hora tardia
que ainda assim não vale nada
e os ouvidos tapam-se com
os sorrisos das mulheres frágeis
apertam os ossos mínimos
perguntam o que é que nos podes mostrar
que transgressões sumptuosas
que humidades que jogo de dedos
e eu só me vou lembrando
de um pátio com um limoeiro aceso
enquanto rodo uma feira de fantasmas
na palma da mão dorida.


  Pedreira, Frederico. Doze Passos Atrás. Lisboa: Artefacto, 2013, p 26.
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