quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014


   " Soneto do grilhão, elo invisível que aprisiona "


Ainda penso em ti com minhas asas
impondo um sobrevôo em tempos idos,
olhando distanciada o suor das brasas
e férreos liames frouxos e corroídos.

Não sei se voltarás, és tão medroso,
tão escravo é teu pé de pega tensa,
que enublaste os anseios da alma e, oleoso,
escoaste em poço seiva ainda intensa.

Transito entre esperança e conformismo,
com tua imagem de presa borboleta,
levando-me ao beiral do fatalismo.

Estão entre aspas todas as certezas,
enquanto o tempo escorre na ampulheta,
somando, aos grãos, a água das tristezas.


 Moutinho, Rita. Sonetos dos Amores Mortos. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2006, p 30.
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