sábado, 8 de fevereiro de 2014

 
 
   Por o amor romântico ser um tal "pico" de euforia, por ser uma paixão difícil de controlar, e porque provoca anseio, obsessão, compulsão, distorção da realidade, dependência emocional e física, alteração da personalidade e perda do autocontrolo, muitos psicólogos consideram-no uma dependência - uma dependência positiva quando o amor de uma pessoa é desprezado e ela não consegue libertar-se dele. A nossa experiência por TIRM com pessoas apaixonadas apoia esta asserção: o amor romântico é uma droga viciadora.
   Directa ou indirectamente, virtualmente todas as "drogas abusivas" afectam um único atalho no cérebro: o sistema de recompensas mesolímbico, activado pela dopamina. O amor romântico estimula partes do mesmo atalho com a mesma substância química. Com efeito, quando os neurologistas Andreas Bartels e Semor Zeki compararam as imagens dos cérebros dos sujeitos enamorados com as de homens e mulheres que se tinham injectado com cocaína ou opiáceos, constataram que muitas das mesmas regiões cerebrais se tinham activado, incluindo o córtex insulano, o córtex cingulado anterior, o núcleo caudado e o putamen.
   Além disso, o amante enfeitiçado apresenta os três sintomas clássicos da viciação: tolerância, ressaca e reincidência. A princípio o amante contenta-se em ver o amado uma vez por outra. Mas à medida que a dependência aumenta, precisam cada vez mais de sua "droga" (...).
   E se o amado termina a relação, o amante mostra todos os sinais comuns da ressaca de drogas, incluindo depressão, episódios de choro, ansiedade, insónia, perda de apetite (ou comer sem controlo), irritabilidade e solidão crónica. Como em todas as viciações, o amante então passa por situações extremas de falta de saúde, de humilhação, até de risco físico, para obter o seu narcótico.
   Os amantes também têm recaídas, como os viciados em drogas. Muito depois de a relação ter terminado, acontecimentos tão simples como ouvir uma determinada canção ou revisitar um velho local de encontro podem desencadear o anseio do amante...
 
 
  Fisher, Helen. Porque Amamos, A Natureza e a Química do Amor Romântico. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2008, pp 180 - 181.
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