terça-feira, 29 de dezembro de 2015



   " O silêncio dentro de mim" (página 23) podia ser o mote de Negro Marfim, de Victor Oliveira Mateus. É ele, a sua inquietação e o seu fundo sem fundo, que fazem ressaltar a visão "negra" mas brilhante, resplandecente, do texto do autor, um texto impiedoso e desumano, próprio de uma época que substituiu o silêncio e o desassossego da existência pelo ruído superficial e pela claridade estonteante do dia-a-adia.
   Ler este livro é fazer prova de temeridade, de suportar às avessas o peso da vida, não pelo que se passa nos jornais, nos cafés e nos bares, mas pelo que se passa no poço inconsciente da nossa escuridão quando se apagam as telas e os ecrãs e a vida, a verdadeira vida, começa dentro de nós.
   Brilhante prosa, brilhante poesia, brilhante texto, brilhante livro, ainda que tecido de pesar e sofrimento, isto é, de negridão, texto como apenas Raul Brandão, Cioran ou Kierkegaard conseguiriam escrever.


  Miguel Real in Negro Marfim de Victor Oliveira Mateus. Fafe: Editora Labirinto, 2015, p 7.
.
.