domingo, 20 de maio de 2018


             Retorno


Meu erro é meu caminho. Duro
é esta consciência larga, esta
nítida visão das horas frias.
Pois não durmo: recordo.
E é voraz a noite da memória.

Paisagens nítidas estão feridas
por meus olhos - cactus - incuráveis.
E é daqui que me tomo
(ou retomo)
                para trilhar-me.

Que o tempo são meus caminhos
e eu sobre eles, lembrado. Eu e meus vários
que as lembranças retomam: um
é remorso, outro é menino, outro viajou
e não retornou da viagem...

Uma tarde, há muitos anos, fiquei sozinho
e sorri: o tempo (então deus imóvel)
ligou em mim suas máquinas:
o tempo com seus traumas, obscuros
mapas, seus cães.

E me perdi.
E em saudades me multipliquei,
senti sonos, desejos, projetei, construí.
Sim, uma tarde, há tantos anos,
e me negociei com meus enganos. Ali.


 Pereyr, Roberval. 110 Poemas. Salvador - Bahia: Quarteto Editora, 2013, p 110.
.
.
.