Negação
Persigo uma exigência obscura, corro o risco de
entrar na minha realidade. Exponho-me à vergonha
de escrever, à erosão que isso provoca. Ouso dese-
jar o suicídio das palavras, saber o que me resta. Na
estranha paixão do esquecimento, na falta de super-
fície do eu que me reveste, escrevo porque digo
sempre o mesmo. E não há nada de secreto, a es-
crita é apenas arte. O tempo, essa brecha, abre no
poema o nosso rosto, na pele se introduz e arruína.
Se o meu espírito estiver destinado a afundar-se,
se a potência do mal quiser o meu limite, serei a
radical negação.
Sá, Isabel de. Voces de Portugal, once poetas de hoy. Granada: Asociación Cultual Cancro, 2017, p 21 ( Selección y traducción de Pedro Sánchez Sanz).
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