segunda-feira, 25 de dezembro de 2017



          Olhar de poeta


Um olhar de varar
poeira pele poros
roupas e paredes.
Olhar de levantar
escamas e máscaras.
Olhar de desvendar
a chuva vindoura
na nuvem de agora.
Ver a pastagem verde
debaixo de alva neve.
Enxergar no lago
a milenar geleira.
Adivinhar na ilha
montanha submersa.
Olhar a se lançar
além do presente
vendo no ovo a ave
e na ave o voo.


   Cabral, Astrid. Palavra na berlinda. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2011, p 69.
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