quinta-feira, 28 de dezembro de 2017



eu, poeta sem função, inquilino das palavras
oblíquas, torto como um rádio à beira de avariar,
se negamos a música dos outros, e sintonizamos
países extintos, ainda assim, nessa habilidade de
circo mudo, enfeito com pérolas o pescoço do
silêncio, ignoro os prodígios da civilização, e fico
a falar sozinho, dirigindo o trânsito das coisas
pequenas, evitando a contramão do amor, ele que
sempre tem razão, quando traz os recados mais
simples, na urgência de evitar a taxa máxima, que
sempre pagamos, quando pomos a falar o coração.


  Gonçalves, Daniel. Estes assuntos tristes. Fafe: Editora Labirinto, 2016, p 32.
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