quarta-feira, 21 de junho de 2017


Semente alada, borboleta de terra
e curta viagem. Que aterra num sítio
à escolha do vento, tal como nós,
que nos encontrámos quando se formou
um remoinho ao mesmo tempo,
no mesmo lugar, onde cada um
do seu lado do passeio ia a passar.
Deve ser a isto que se chama
o mais puro acaso, o remoinho
chupou-nos para dentro, éramos
do género de não querer assim
muito movimento nas nossas vidas
e por isso tem sido um pouco, não
sei que palavra hei-de escolher, um
pouco aborrecido termos sido obrigados
a mover-nos no meio da sua espiral.
Caiu de cinco metros a semente
alada, quando olhei saía-lhe
de dentro um veneno arroxeado.


  Pereira, Helder Moura. Golpe de Teatro. Porto: Assírio & Alvim, 2016,  p 54.
.
.
.
.
.
.