terça-feira, 31 de maio de 2016





   " A Fotografia de Narciso  "

Trago a memória o rosto
Trago, roubados a retina os espelhos
Trago do cântico as cores do profuso negro
Da melodia vibrante o raso silêncio.
Lembro-me, esqueceste-te
Vi, vejo o que não viste no momento que viveste
Tiro a alma dizem os índios
- Apenas carrego a luz, um mito inútil
Na verdade, indistinguível podem copiar-me
Copiam. Copiam-me até ao infinito
Como um espelho face a outro.
Eu absorvo, retenho. O espelho explode.
Por isso gasto-me como tu, Narciso.
Vivo até
À última cópia. Não respiro, permaneço.

Tu respiras, morres. Eu pereço.


  André Alves in "Apócrifa" Nº 5, Fevº 2016, p. 19.
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