terça-feira, 10 de maio de 2016
" XXXVIII "
Toma-me ao menos
Na tua vigília.
Nos entressonhos.
Que eu faça parte
Das dores empoçadas
De um estendido de outono
Do estar ali e largar-se
Da tua vida.
Toma-me
Porque me agrada
Meu ser cativo do teu sono.
Corporifica
Boca e malícia.
Tatos.
Me importa mais
O que a ausência traz
E a boca não explica.
Toma-me anômima
Se quiseres. Eu outra
Ou fictícia. Até rapaz.
É sempre a mim que tomas.
Tanto faz.
Hilst, Hilda. Cantares. São Paulo: Editora Globo, 2012, p. 72.
.
.
.
Nota - Cantares é o terceiro volume da obra poética completa de Hilda Hilst e é composto por dois livros publicados em momentos distintos: Cantares de perda e predileção (1983) e Cantares do sem nome e de partidas (1995).
.
.