Final do " Canto XXXI-Sobre o retrato duma bela dama esculpido no seu túmulo "
(...)
Por natural virtude,
uma sábia harmonia
inspira ao sonhador
desejos infinitos e sublimes visões;
por isso em mar oculto, deleitoso,
erra o espírito humano,
semelhante a ousado
nadador que por gosto sulca o Oceano:
mas se um acorde dissonante
fere o ouvido, em nada
aquele paraíso se transforma num instante.
Natureza humana, como podes,
tu, que és tão baixa e frágil,
que és sombra e pó, sonhar tão alto?
E, se alguma nobreza também guardas,
como podem teus mais dignos
pensamentos e emoções tão facilmente
de tão baixas causas provir e extinguir-se?
Leopardi, Giacomo. Cantos. Porto: Asa Editores, 2005, p. 237 ( Tradução, apresentação e notas de Albano Martins).
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