sábado, 3 de dezembro de 2016


          " pássaro de cristal "


ainda que tenhas nascido escravo e filho de cativos,
ainda que da tua amada só restem cabelos no leito,
ainda que nenhum deus se tenha sacrificado por ti,

ainda que só conheças as pétalas apagadas de um verso,
ainda que a primeira noite de verão tenha sido a mais longa,
ainda que enterrasses teu pai, e a pá te pese como uma cruz,

ainda que tudo isto e o que ocultas tenha sido verdade,
não esqueças: algures, existe um pássaro de cristal
cantando mudamente para ti.


  Mancelos, João de. O teu Nome incendiado de Azul. Lisboa, Edições Colibri, 2016, p 36.
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