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Nem a demanda conseguirás que
se acabe, mesmo que a ti a fortuna se confie,
nem o estudo será para teu gáudio, ainda que dos sábios inspirado,
nem te assistirá o talento, nem o consolo abrandará o teu anseio,
nem que fosse o amor podias viver livremente.
E nem mesmo o profeta ditando os versos terá discípulos
se jamais concilia os escrivães com a sua mágoa,
nem o jovem será na graça favorecido, pois ela o trairá,
nem o rio que outrora baptizaste o lembrarás
se o não voltares, na névoa, a ver primeiro.
Onde vais então para que te siga piamente? Acaso
atalharemos o país de cerradas dunas como campas,
quando na distância os dois brilharmos, os dois
entre os solenes risos de guardar silêncio?
Longe do que pensaríamos algum dia consentido,
longe de nos encontrarmos sob a funesta sina,
do que irá passar-se brevemente o saberemos:
muitas vezes vimos quanto a beleza tarda,
mas só ela tolera dispormos do mundo fugazmente
e com essa cega mágoa ir mais além.
Cóias, Rui. europa. Lisboa: Tinta-Da-China, 2015, p. 70.
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