De Ávila a Salamanca
Para longe vão as nuvens.
Escapam ao íman dos campanários
das duas catedrais.
De Madrigal em flor a Salamanca,
de frei Luís a frei Luís,
pela Moraña verde,
desmonta-se também o horizonte.
Fulgor no meio das searas
acamadas após a tormenta.
Para longe vão as nuvens,
vão na busca do levante
e o Tormes corre forte e contido,
e o mundo está bem feito...
Eu entro na cidade como quem entra
numa melodia
de uma manhã de sábado,
toda por estrear, toda para mim,
toda eco e silêncio que se altera
ao compasso dos meus passos.
E apesar de só, eu sei que vou contigo,
que contigo faço meus os passeios,
já que o sol que me beija
é o mesmo que agora estás bebendo,
com a janela aberta,
olhando para outra cidade, com outra estranha
alegria de estares e não estares sozinha.
A praça sussurra pelas arcadas,
os cafés chamam-me
e eu compro o jornal,
e tomo esta manhã com açúcar,
vibrando enquanto passa e se despede
a penúltima nuvem,
pressurosa a caminho do levante.
Aganzo, Carlos. Salamanca raíz de piedra y letras, Antologia Bilingue de Poesía Iberoamericana. Salamanca/ Fafe: Fundación Salamanca Ciudad de Cultura y Saberes/ Editora Labirinto, 2017, pp 51-53 (Coordinador y traducción: Victor Oliveira Mateus).
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