quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Herdo o azul.
A minha voz escolhe a sua hospedagem e semeia na primavera
e se desoculta numa altíssima janela.
Em cada instante um sonho ou uma onda.
Em cada dia um novo baptismo. Em cada estremecimento
a abolição dos desdéns.
Inútil querer fugir daqui.
Nesta praia a luz não desaparece nem quando chegam
tempestades.
Pego na declaração das testemunhas.
Não se esquecem de nenhum raio de sol de qualquer verão.
Dizem do agosto: "Os banhistas enchem a praia,
os restaurantes repletos, o casino
para o jogo, os espectáculos dando vida nocturna..."
Exercito a paixão pelo sossego que resgata.
Exercito o sossego pela paixão que desgasta.
Entretanto, a cidade encontra-me a percorrê-la sem mapa
de cabeça erguida pelas ruas,
sentindo-a muito cá dentro para acreditar na sua existência.
E submerjo os meus olhos nela, para que não desapareça.
.
.
Alencart, Alfredo Pérez. Em frente do mar, emudeci/ Ante el mar, callé (edição bilingue). Fafe: Editora Labiirinto, 2017, p 14 (Tradução de Eduardo Aroso).
.
.
.