segunda-feira, 20 de novembro de 2017
Um Arco em Salamanca
Encostada a um dos arcos que protegem esta Plaza Mayor
/que dela são parte essencial/
observo como pouco a pouco as luzes vão esmorecendo
em silêncio
Esse silêncio que sobre mim se abate com o frio da noite
e transforma
este lugar que de dia foi colmeia
num silêncio doce que aumenta à medida
que a luz artificial desaparece
e dá lugar a uma Lua que se afirma
delicada e terna
como virginal unha a despontar
Horas atrás sob o sol
as quadradas pedras da Plaza Mayor
sussurravam como afinado coro
Na esquálida luz que vai escorrendo pelo vazio
deito um olhar à minha pele de mestiça americana
e recordo
o amanhecer
A estância ressoava com palavras
/roçaram a pele encrespada do Atlântico/
voo de pássaros enormes
sussurros
premonições
que suavemente embateram na praia da Península
Uma orgia de palavras
Deixo a Plaza Mayor
deslizo
por uma rua ainda mais escura
levanto os olhos e mordo as estrelas
devoro-as com paixão
e caminho sorvendo os delicados sucos da Lua
Olho para trás e ali se mantém esperando
fiel
poderoso
com a força que lhe deram os séculos
o arco da Plaza aquele ao pé do qual plantei
o meu amor por Salamanca
Rodas, Ana Maria. Salamanca Raíz de piedra y letras, Antologia Bilingue de Poesía Iberoamreciana. Salamanca/ Fafe: Fundación Salamanca Ciudad de Cultura y Saberes/ Editora Labirinto, 2017, pp 33-35 (Coordinador y Traducción: Victor Oliveira Mateus)
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