terça-feira, 14 de novembro de 2017


           Retrato


Tenho uma pedra na voz,
uma flor no olhar; e seguro
com as mãos um pássaro de plumas verdes.
Aqui tens o retrato que me pedes.
         (E desculpa lá a pedra na voz:
         O coração está puro!)

No entanto, bem vês,
sou um escravo
da minha voz: Sigo
com os olhos o voo dos meus dedos,
          mas acabo
          sempre (ai de mim!) na dureza do que digo.


   Jesus, Eduíno de. Os Silos do Silêncio, Poesia (1948-2004). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005, p 154 ( Prefácio de António Manuel Couto Viana; Posfácio de Onésimo Teotónio Almeida).
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